Editorial
Cuidado com as ondas
A praia do Norte transformou-se num local de culto, capaz de atrair multidões
As ondas grandes da Nazaré têm uma particularidade engraçada.
Já rebentavam com estrondo, muito antes de terem sido ‘descobertas’.
Quem frequentava a praia do Norte sabia disso há décadas.
Mas alguém, com visão e espírito mais empreendedor, lembrou-se que aquelas ondas tinham predicados para cativar as intenções internacionais, e o fenómeno tornou-se global.
Veio o McNamara, a famosa foto de um muro de água que parecia estar a engolir o pequeno farol tornou-se viral, uma onda alcançou um título mundial, e a praça central do Sítio, que antes fervilhava de turistas e acolhia passeios domingueiros, passou a servirde ponto de passagem para o Forte de São Miguel Arcanjo.
À dimensão, as ondas da Nazaré estão hoje para os surfistas mais radicais e preparados como está Fátima para os católicos de todo o Mundo.
E a praia do Norte transformou-se num local de culto, capaz de atrair multidões.
Era assim antes da fase pandémica, e assim se manteve, até durante os períodos de maiores restrições.
Em Outubro do ano passado, por exemplo, as autoridades marítimas e municipais foram surpreendidas por uma multidão, que se concentrou nas arribas para desfrutar da imponência oceânica e assistir às manobras arriscadas de quem se atreve a deslizar pelas enormes massas de água.
A “concentração espontânea” de milhares de pessoas, tornou praticamente impossível o respeito pelo distanciamento social e pelas regras sanitárias em vigor naquela ocasião.
Em desespero de causa, as autoridades viram-se forçadas a proibir o acesso à estrada do farol.
Para estes dias, estão previstas ondas que podem chegar aos 15 metros e, consequentemente, a Câmara Municipal e a Capitania da Nazaré accionaram um plano conjunto para garantir a segurança de surfistas e público.
No anúncio, é prometida a mobilização de cerca de uma dezena de trabalhadores do município e de todo o efectivo da Capitania do Porto, composto por “uma dúzia de agentes da Polícia Marítima”.
Mas será este contigente operacional suficiente para acautelar o cumprimento das regras sanitárias e de segurança, caso volte a verificar-se uma grande afluência de público à praia do Norte?
O ano passado, não foi.