Editorial

Dar tempo aos médicos

19 mai 2022 12:00

O médico de família é, por norma, o primeiro ponto de contacto com o sistema de saúde

O diagnóstico está feito há mais de duas décadas e revela a incapacidade dos sucessivos governos em garantir um médico de família a todos os portugueses.

Em 2016, o primeiro-ministro, António Costa, prometeu solucionar o problema até final de 2017.

Mas dois anos depois, e ainda antes da pandemia, a então secretária de Estado da Saúde, Raquel Duarte, adiou a promessa para 2020, numa altura em que se estimava existirem 600 mil utentes em Portugal sem médico de família.

A realidade é que, chegados a 2022, o último balanço feito pela Ordem dos Médicos (OM) apontava para quase 1,3 milhões de portugueses sem médico de família.

Na região Centro, este mal crónico do Serviço Nacional de Saúde afecta cerca de 160 mil utentes, havendo a possibilidade deste número disparar para cerca de 400 mil a curto prazo, segundo as projecções do presidente da Secção Regional do Centro da OM, Carlos Cortes, com base na quantidade de médicos com mais de 65 anos, que poderão pedir a aposentação.

Esta quinta-feira, celebra-se o Dia Mundial do Médico de Família e o JORNAL DE LEIRIA foi ouvir os testemunhos de vários profissionais, convidando-os a fazer uma viagem no tempo para que os nossos leitores compreendam melhor como era ser médico de família há duas ou três décadas e como é exercer esta profissão tão nobre na actualidade.

O médico de família é, por norma, o primeiro ponto de contacto com o sistema de saúde, e um importante gestor dos recursos de saúde, com base numa relação de proximidade ao doente e de racionalidade na articulação com outros profissionais de cuidados de saúde primários e outras especialidades médicas.

Mas é também o “porto seguro” para muitos dos utentes, que por vezes apenas precisam de tranquilizar a alma face a uma qualquer maleita, geradora de excessiva preocupação ou ansiedade.

Por isso, mais do que garantir medidas para a contratação e fixação de mais médicos de família, é fundamental ouvir também os apelos das organizações profissionais, entre elas a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar: “Precisamos de aliviar a carga burocrática que nos aprisiona e nos impede de fazer aquilo que apenas nós sabemos e podemos fazer. Queremos voltar a ter tempo para acompanhar os nossos utentes/doentes da forma que merecem e precisam, em todas as suas vertentes”.