Opinião
Democracia sem “equidade”
Não posso fugir ao desafio que nos é posto pela primeira Exortação Apostólica do Papa Leão XIV, bem na senda do que já nos tinha trazido o Papa Francisco
Meu Caro Zé
Não! Não te vou falar das autárquicas que ocorreram, pois, uma observação aprofundada não é ainda possível no momento em que escrevo, sobretudo quando o que deve estar em causa não é quem vence, mas se daqui saiu algo de diferente do que existia no que toca à melhoria das condições das populações e de cada um dos cidadãos, designadamente dos mais pobres.
E aqui não posso fugir ao desafio que nos é posto pela primeira Exortação Apostólica do Papa Leão XIV, bem na senda do que já nos tinha trazido o Papa Francisco, em que chama a atenção para “as novas formas de pobreza e falta de equidade”, reforçando mesmo a posição do Papa Francisco que “a falta de equidade é a raiz de todos os males sociais”.
E não poupa nas palavras quando refere “a ditadura de uma economia que mata”, “a cultura descarte” que “tolera com indiferença que milhões de pessoas morram de fome ou sobrevivam em condições indignas de ser humano”. Mas vai mais longe, pondo em causa a exagerada confiança na liberdade de mercado como solução para ultrapassar a pobreza. Em particular, olhando mesmo para dentro da Igreja Católica, chama a atenção para o perigo do que designa por “pastoral das chamadas elites” segundo a qual, “em vez de perder tempo com os pobres, é melhor cuidar dos ricos, dos poderosos e dos profissionais”.
No fundo, a tal ideia de fazer crescer o bolo (o crescimento do PIB) para depois distribuir, agravando, continuamente a desigualdade e a pobreza, iludindo através de medições e de indicadores com “critérios de outros tempos não comparáveis à realidade atual”. E evidencia que antes de tudo, há que defender e respeitar a dignidade humana e, tendo esta como inalienável, não é admissível marginalizar socialmente, o que significa “não possuir instrumentos para dar voz à sua dignidade e suas capacidades”, criando assim situações alargadas de pobreza que não confina aos que “não têm meios de subsistência material”, a que acrescenta “pobreza moral”, “pobreza espiritual”, “cultural” e, finalmente, a pobreza “de quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade”.
Está, pois, em causa o desafio da equidade que, segundo o “Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, se define como “Justiça natural que faça com que se reconheça imparcialmente o direito de cada um.” De cada um e, como dizia o Papa Francisco, de “todos, todos, todos”, e não de grupos de qualquer natureza, incluindo partidos, empresas, regiões e países. Democracia?
Até sempre
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990