Opinião

Dias Inglórios

12 set 2025 16:34

A verdade é que uma intervenção rápida em crise a nível psicológico previne agravamento de quadros ou desenvolvimento de doença mental crónica no futuro

Na semana passada assistimos ao trágico acidente com o Elevador da Glória em Lisboa onde 16 pessoas perderam a vida. Para além de todo o aparato em volta da operação de socorro, mais uma vez assistimos ao circo mediático de exploração deste evento. Sem esquecer claro, o apontar de dedos e o inevitável rolar de cabeças que se exige.

Esperemos que a culpa não morra solteira como habitualmente acontece. Atenção que com isto não estou a dizer que não se deva apurar responsabilidades e garantir que a probabilidade de novo acidente seja diminuta. Mas existe o informar e depois existe o explorar. Especialmente o ângulo político já que estamos perto de eleições.

Não pode deixar de rever a queda da ponte de Entre-os-Rios e nos traumas coletivos que este tipo de eventos causa. No peso do luto que as famílias carregam, especialmente quando espelhado desta forma tão crua e invasiva na televisão. Quem os ajuda quando as câmaras vão embora porque a estória esfriou?

Coincidentemente no dia seguinte comemorou-se o Dia Nacional do Psicólogo em Portugal. Cujas comemorações foram adiadas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses devido ao luto nacional. Não posso deixar de refletir que cuidar das mazelas mentais também é importante e que quando as feridas físicas sararem, o trauma ainda permanece na mente. E podíamos até achar que isso deveria ficar para depois, mas a verdade é que uma intervenção rápida em crise a nível psicológico previne agravamento de quadros ou desenvolvimento de doença mental crónica no futuro.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses após os fogos de 2017 ativou a sua Bolsa de Psicólogos prontos para intervir em crise. Isto com o objetivo de em coordenação com as equipas no terreno dar apoio às populações e profissionais. Depois disso e apesar de todos os eventos que ocorrem não mais se ouviu falar da utilização desse recurso. Porquê? Temos recursos suficientes no terreno para eventos desta dimensão?

Aproveito para deixar a informação de que em setembro se assinala o “setembro amarelo”, uma sensibilização para a prevenção do suicídio. No mundo estima-se que a cada 40 segundos alguém se suicida. De acordo com a OMS, os números atingem as 800 mil pessoas anualmente. E indiretamente muitas mais que vivem com o luto de perder alguém para o suicídio. Em resposta à procura de apoio, a partir do dia 10 de setembro a linha 1411 estará a funcionar 24 horas por dia gratuitamente.

Nas tragédias públicas como nas privadas, o sofrimento é real e intenso. A doença mental é invisível mas os seus efeitos devastadores bem visíveis. E não, o tempo não cura o trauma.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990