Editorial

E agora... sem Rede 

7 mar 2024 08:02

A Rede Cultura está sem actividade e já nem à plataforma digital é possível aceder

Foi anunciada como um projecto pioneiro, sem precedentes no País, para fomentar a criação de uma rede de cooperação entre cidades e vilas no domínio das artes, da cultura e do conhecimento. Constituída com o objectivo de consolidar a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura, a Rede Cultura 2027 parece condenada ao fracasso. Está sem actividade e já nem à plataforma digital é possível aceder.

Isto depois de anos de trabalho, de centenas de milhares de euros investidos, de existir um plano de trabalho e da maioria dos municípios e agentes culturais ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA serem a favor da continuidade desta rede.

Numa ‘orquestra’ com 26 municípios, agora sem maestro, muitos recordam os momentos de afinação, mas como ninguém definiu a partitura a seguir depois de perdida a candidatura europeia, o futuro inclina-se mais para o regresso às interpretações a solo.

“É uma pena”, desabafa Paulo Lameiro, ex-coordenador da Rede Cultura 2027. E um desperdício, arriscamos dizer nós, face ao investimento, à capacitação, aos resultados (porque os houve) e às expectativas criadas.

Mas mais do que apontar o dedo aos actores políticos pela descontinuidade desta rede, Lameiro queixa-se da “fragilidade” que encontrou no tecido cultural de Leiria, das movimentações anti-candidatura, motivadas por quezílias pessoais; por vontades mesquinhas de contestar o poder instituído; por rivalidades fratricidas entre agentes culturais, receosos de virem a perder os habituais canais de financiamento.

Sabia-se, desde o início, que a tarefa não era fácil. Mas com grãos de areia de egoísmo bacoco a emperrar a engrenagem, e independentemente de alguns erros estratégicos que possam ter sido cometidos, mais difícil se tornou. Os resultados estão à vista.

Vale a pena recordar um outro desabafo, este bem mais antigo mas, pelos vistos, ainda actual: “Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar” – Júlio César.