Opinião
Editorial | Um dos melhores! Sim é verdade...
Morreu um dos melhores de nós”. As palavras são de Tozé Brito, em entrevista nesta edição, referindo-se a Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés.
Uma manifestação corroborada por inúmeras pessoas que privaram de perto com o músico, numa unanimidade rara, mesmo sabendo-se que a morte parece ter o condão de tornar as pessoas melhores.
Pelo menos, de fazer esquecer muitas coisas… No caso de Zé Pedro, no entanto, as opiniões que se foram ouvindo no post mortem, além de transpirarem sinceridade e genuinidade, apenas vieram reforçar a ideia que se tinha dele em vida: uma pessoa de trato fácil, afectuosa e humilde, características pouco comuns em quem atinge o grau de mediatismo e o estatuto de ídolo por ele alcançados.
É curioso, aliás, perceber que entre as pessoas de maior dimensão se encontram, frequentemente, a simplicidade e disponibilidade que rareiam no meio daqueles que gostavam de ser algo para o qual não nasceram.
Entre os que tentam a qualquer custo subir a escada para patamares, nas suas cabeças, mais altos e, lá chegados, disparam arrogância e prepotência em todas as direcções, menos para cima, obviamente.
No fundo, as pessoas revelam-se com o poder, por mais pequeno que seja, como Abraham Lincoln, antigo presidente dos EUA, sintetizou bem na sua máxima “se quiser pôr à prova o carácter de um homem, dê-lhe poder”. Zé Pedro teve poder.
O poder do mediatismo, da opinião que conta, dos contactos, da influência. Teve poder por ser admirado, mas também invejado. O poder de as pessoas quererem estar próximas, ser amigas da fama. Esse poder, no entanto, não foi suficiente para lhe alterar a essência.
Para se colocar num pedestal, rodeado de seguranças, longe do ‘povo’ que o idolatrava. Pelo contrário. A sua vida foi feita no rés-do-chão - algumas vezes na cave, nunca o escondeu - junto de quem o admirava, próximo dos que dele gostavam verdadeiramente.
Sempre disponível, com um sorriso, para uma foto, uma conversa, um convite. Sem pedir nada em troca.
No fundo, despedimo-nos de um comunicador genial e de alguém que, com os restantes membros dos Xutos&Pontapés, foi um marco enorme na música popular portuguesa, mas também de uma pessoa que mostrou ter dimensão humana para merecer tudo o que de bom alcançou.
Zé Pedro apresentou o livro em Lisboa, na Fnac, e ofereceu-se para o fazer no Porto, o que veio a acontecer na famosa Lello. Sem nada exigir, nem sequer pedir. Sempre com a maior simpatia e simplicidade. Sempre, na boa…
Nota: No inicio de 2014 a Arquivo, representante recente da Taschen em Portugal, foi desafiada pela marca alemã para organizar a apresentação de um livro sobre os Rolling Stones, em Portugal.
Passados uns dias, numa exposição do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, cruzei-me nas escadas com o Zé Pedro, que não me conhecia de lado algum. Eu subia, ele descia. Abordei-o e, no meio da confusão, que não era pouca, convidei-o para falar na dita apresentação.
Face à dificuldade em comunicarmos no meio de tanta gente, deu-me o seu contacto para conversarmos mais tarde. O dele. Não o do agente ou da secretária.
Zé Pedro apresentou o livro em Lisboa, na Fnac, e ofereceu-se para o fazer no Porto, o que veio a acontecer na famosa Lello. Sem nada exigir, nem sequer pedir. Sempre com a maior simpatia e simplicidade. Sempre, na boa…
*Director do JORNAL DE LEIRIA