Opinião
Eu andei contigo na escola?
A cidade de Leiria é muito sui generis, diz o João. “Para mim, é uma cidade e uma aldeia ao mesmo tempo"
Por acaso, andei! Mais precisamente, no Colégio Conciliar de Maria Imaculada, na Cruz d’Areia. Tínhamos uma freira chamada Irmã Cândida Rosa a ocupar-se da nossa educação, éramos minúsculos e adoráveis.
O João Francisco andou comigo na escola. Depois crescemos. Deixámos Leiria na mesma altura, por razões semelhantes. “Fui à procura da melhor educação possível e de aprender a virar-me sozinho”, resume. Estudou Engenharia Informática no Técnico e entrou numa das cobiçadas big four, as maiores multinacionais de consultoria do mundo. Ao fim de 2 anos em Lisboa, foi para Nova Iorque a convite da empresa, onde ficou. Esta foi a primeira vida do João e durou até aos 32 anos.
Seguiram-se muitas outras. Ainda em Nova Iorque, estudou televisão e cinema, trabalhou em produção de conteúdos para moda e televisão, produziu eventos incríveis em que atuou como catalisador para outros portugueses ali a viver, criou uma organização sem fins lucrativos e, nos últimos anos, assumiu mais a sério a veia de empreendedor, fundando várias empresas que hoje gere. “Tudo isto faz parte do que eu sou. Continuo a fazer várias coisas ao mesmo tempo, simplesmente porque gosto e sinto essa necessidade para me sentir realizado. As pessoas não são unidimensionais. Nos negócios que criei, todas estas aprendizagens estão presentes”, explica.
Em 2019, com 42 anos, decidiu voltar. A principal razão foi a família. “Eu e a minha mulher consideramos que os laços familiares são muito importantes para um desenvolvimento emocional saudável das crianças. Sendo Portugal um país com boas escolas e boa qualidade de vida, a decisão foi fácil”.
A cidade de Leiria é muito sui generis, diz o João. “Para mim, é uma cidade e uma aldeia ao mesmo tempo. Consegue proporcionar experiências cosmopolitas ao nível de cultura, educação, gastronomia e tecnologia, e ao mesmo tempo temos campos agrícolas e currais com animais na cidade... adoro isso, é incrível”.
Ainda se lembra da primeira visita ao Castelo e da primeira ida ao cinema, no Teatro José Lúcio da Silva. Diz-se surpreendido pela dinâmica cultural e empresarial que se vive na cidade e sublinha a importância de estarmos abertos para acolher a imigração. “Compreendo que possa não ser fácil quando o que estamos habituados já há muitas décadas é a ver os nossos partir para outros países”. Foi também o desafio de aprender a viver numa sociedade multicultural que o fascinou em Nova Iorque: “A grande maioria das pessoas não nasceu lá, e isso ajuda-nos não só a ser mais atentos às diferenças, mas também a ser mais tolerantes e respeitadores das mesmas”.
Quanto ao futuro, é claro: “Espero que os investimentos empresariais que estamos a fazer em Leiria sejam bem sucedidos e que, em conjunto com outros investidores locais e estrangeiros, consigamos continuar a criar postos de trabalho e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Se os nossos negócios nas áreas de tecnologia, indústria e entretenimento evoluírem da forma como prevemos, vamos conseguir ter um impacto muito positivo na cidade”. Boa sorte, João!