Editorial
Fumo negro no horizonte
Os últimos dias foram particularmente duros para a nossa região
Os últimos dias foram particularmente duros para a nossa região. Mais uma vez, as colunas de fumo negro ergueram-se no horizonte dos nossos concelhos e das nossas memórias recentes. O sobressalto voltou a entrar de rompante em muitas das nossas aldeias. Voltámos a assistir ao corrupio de sirenes, a ver o sol desaparecer no denso manto de fumo, a sentir o odor a madeira queimada, a ouvir os testemunhos de quem teme perder, por vezes, o resultado do trabalho de uma vida.
Na tarde desta terça-feira, estiveram, em simultâneo, mais de 1.200 bombeiros, mais de 350 viaturas e 14 meios aéreos, envolvidos nos incêndios com início em Ourém, Pombal e Caranguejeira (Leiria). Viveram-se momentos de grande tensão, perante a proximidade das chamas dos aglomerados habitacionais e unidades industriais.
Enquanto os bombeiros não chegavam, eram os populares que deitavam mão aos depósitos de água, baldes, ramos e mangueiras, numa luta desesperada pela preservação dos seus bens … e os dos vizinhos. Aqui e ali, escutava-se um ou outro lamento sobre as condições meteorológicas, a falta de limpeza e de organização da floresta. Ouviam-se as habituais suspeitas de mão criminosa na origem do fogo.
Em relação ao clima, parece evidente que vamos ter de aprender a conviver com situações extremas e a seguir com atenção as previsões dos meteorologistas. Já quanto à limpeza e ordenamento florestal, seria expectável que, em 2022, tivesse sido feito muito mais, depois das promessas formuladas no rescaldo dos incêndios em 2003, 2005 e 2017.
Infelizmente, a realidade é outra. Quase 20 anos passados, por exemplo, só 5% dos terrenos estavam identificados no cadastro simplificado na nossa região, como demos conta nas páginas deste jornal, em Maio passado. Assim, continua difícil notificar proprietários, para os obrigar a limpar os terrenos e incentivar a reordenar o coberto vegetal.
Apesar do muito que se debate, comenta e promete no pico dos dias de inferno, a verdade é que continuamos a adiar o ordenamento do território florestal, como lamentavelmente se concluiu em Junho passado, no balanço ao que (não) foi feito nos concelhos do Norte do distrito de Leiria, cinco anos após os grandes incêndios de Pedrogão Grande.