Editorial
Habituem-se!
Vão longe os tempos em que os porteiros – agora designados por seguranças ou vigilantes – serviam basicamente para seleccionar o ambiente no interior dos bares e discotecas
Esta semana chegou ao nosso jornal mais um vídeo a documentar uma troca de agressões à porta de um estabelecimento de diversão nocturna na cidade de Leiria. Não foi o primeiro e, certamente, não será o último, se atentarmos na forma como a noite leiriense tem evoluído, ou, neste caso em concreto, regredido.
Vão longe os tempos em que os porteiros – agora designados por seguranças ou vigilantes – serviam basicamente para seleccionar o ambiente no interior dos bares e discotecas, ou para distribuir os cartões de consumo e conrmar que os clientes tinham pago a sua conta, antes de abandonarem o estabelecimento.
Não quer isto dizer que antes não se registassem altercações na noite. Registavam, mas com muito menos frequência e, quiçá, com muito menos violência. São os sinais dos tempos que vivemos.
Isso mesmo admitiu o director nacional da PSP, nas celebrações do 149º aniversário do Comando Distrital de Leiria daquela força policial, que se realizaram em Pombal. Magina da Silva traçou um quadro tranquilizador quanto à criminalidade em geral no nosso País, reconhecendo, no entanto, que a criminalidade violenta está cada vez mais grave, sobretudo aquela em que são usadas armas brancas.
Num discurso assertivo e destemido, o comandante distrital da PSP de Leiria, José Figueira, ainda alertou o seu superior hierárquico para a redução do efectivo policial no distrito, consubstanciada na última década com a perda de cerca de 50 operacionais (mais de 10% do total) e num período em que as competências delegadas na polícia foram amplamente alargadas.
Mas na resposta, e antes de se emaranhar num discurso assente em sondagens, estudos e inquéritos – e até numa alegoria -, Magina da Silva foi curto e grosso: “Não vai haver mais recursos humanos. Senhor comandante, faça o melhor que sabe e pode com os recursos que lhe são alocados, que é exactamente isso que temos todos que fazer”.
Quanto à necessidade da construção de uma esquadra da PSP mais digna na cidade, reiterada pelo presidente da Câmara de Pombal, Pedro Pimpão, que se disponibilizou inclusive para custear o projecto, o director nacional nada disse.
É caso para recordar uma resposta proferida recentemente pelo primeiro-ministro: habituem-se!