Opinião

Inesa Markava, a nossa ponta de lança para 2027

30 out 2021 15:45

Quando experimenta e vivencia o melhor, o Ser Humano desenvolve dentro de si uma capa protetora e começa a sentir mais dificuldade em digerir o que é menos bom

Quando iniciamos uma prova de vinhos, começamos sempre pela garrafa de menor qualidade e vamos evoluindo de uma forma progressiva até provarmos a melhor referência no final.

O sentido desta organização é fácil de compreender – o melhor fica sempre para o fim.

Há uns anos atrás, quando estava a estudar em Lisboa, decidi (ingenuamente) emprestar à minha professora de literatura uns livros de poesia.

Apesar da minha insistência, tardava em dar-me o seu feedback sobre aquelas obras.

Mais tarde, depois de lermos nas aulas variadíssimos poemas de grandes autores como Ruy Belo, Herberto Helder ou Manuel da Fonseca, a professora devolveu-me os livros e sugeriu que eu os lesse novamente. Rapidamente percebi a mensagem que me estava a querer transmitir.

Quando experimenta e vivencia o melhor, o Ser Humano desenvolve dentro de si uma capa protetora e começa a sentir mais dificuldade em digerir o que é menos bom. 

Se transportarmos esta forma de pensar para a cultura e para os seus espetáculos associados talvez compreendêssemos que existe uma diferença abismal entre um bom espetáculo para outros de baixa qualidade.

Mas para isso acontecer temos de fazer parte das melhores experiências.

Talvez por isso os melhores palcos de cultura do nosso país, que são os teatros, os espaços de exposições, os museus e aqueles que são uma mistura de tudo isto têm que ser suportados por uma curadoria de elevada qualidade para que essas pessoas consigam criar um programa que diferencie e projete a cultura para nível sempre superior.

Leiria tem a ambição de ser Capital Europeia da Cultura em 2027 e eu acredito que todos, mesmo aqueles que acham a ideia uma utopia desconexa, adorariam que a cidade vestisse este título.

Mas para que este sonho se torne uma realidade a cidade tem que apostar numa cultura de excelência.

Por falar em excelência foi isso mesmo que aconteceu na visita que fiz com os meus alunos ao BAG – Banco das Artes Galeria, à exposição Uma vida Inteira, do artista Nuno Sousa Vieira.

A bailarina Inesa Markava através do seu incrível projeto Museus Imaginários criou uma visita dançada onde nos convida e transporta, através do seu corpo em movimento e da música, para uma viagem pelas obras do artista plástico.

Um espetáculo que coloca a cultura da nossa cidade para o lugar onde ela merece estar e permanecer.

Bem sei que a bailarina Inesa Markava é especial e que a sua formação superior em Pedagogia Socio-Cultural na Universidade de Cultura e Arte em Minsk e o seu doutoramento em Arte Contemporânea, no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra a colocam num patamar superior.

Também sei que se misturarmos toda esta qualidade com a sua profunda humildade, a sua enorme dedicação e o seu profissionalismo estamos perante uma das melhores pontas de lança para atacar aquilo a que todos ambicionamos.

Se a nossa candidatura a Capital Europeia da Cultura for construída com o suporte de mais “Inesas” poderemos ambicionar à transformação de um sonho numa saborosa e cultural realidade em 2027! 

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográrfico de 1990