Opinião
It's so funny, why we don't talk anymore?
Ao deus Dará
Esta semana andou um número significativo de pessoas pelo meu facebook com vontade de montar uma fogueira na praça e grelhar uns concidadãos. Surpreendidos e chocados por 5093 pessoas (no concelho) votarem numa espécie de retrocesso civilizacional, eles, modernos, batendo de frente com a realidade, acendiam uma certa vontade de arquitectar uma queimada. Não vou discutir se a coima para a transgressão seria a correcta. Percebo o ímpeto mas, não sendo jurista, nem entendedor de coimas, não sei qual é a pena certa para quem não tem pena de voltar a uma sociedade do lá atrás.
Mas, como temos de ser contra todo o tipo de descriminação proponho, mais que dissertar sobre esses 5093, discutir sobre os 3067 que usam as calças demasiado justas na fruta. Os 6132 que não passam o tártaro por água. Os 7986 que moram no lado sem sol da vida. E, acima de tudo, os 110 524 que perderam a capacidade de falar.
Não é bem de falar, é daquela parte especifica do falar que se chama ouvir. Falar as pessoas falam, agora ouvir... Porque se ouvissem só um bocadinho para lá das vozes que ouvem sempre saberiam que o Andrade do talho rosna a vegetarianos. Que o Eng. Fonseca acerta o passo à mulher. Que a Rosália se sente um farrapo do chão faz meses e um dia destes ainda faz uma asneira da qual mais tarde não se pode arrepender. Que o Amaral dos seguros tem um pó de morte ao Almerindo bate chapas desde daquela vez que o gajo se entusiasmou e lhe apalpou o cu. Que o Drº Felismino não paga os impostos e ainda por cima é advogado. E que o sujeito com a pedra na mão tem telhados de vidro e deita-se na cama que ele fez a meias com as circunstâncias.
A surpresa devemos sempre, pelo menos, fingi-la. Agora os sintomas do choque devem estar controlados pela profilaxia da atenção ao que gira à nossa volta. Às vezes é só espreitar o mundo do outro e perceber que particularidades ele por lá esconde. Algumas são diferentes das nossas.