Opinião

It's so funny, why we don't talk anymore?

6 fev 2022 21:38

Ao deus Dará

Esta semana andou um número significativo de pessoas pelo meu facebook com vontade de montar uma fogueira na praça e grelhar uns concidadãos. Surpreendidos e chocados por 5093 pessoas (no concelho) votarem numa espécie de retrocesso civilizacional, eles, modernos, batendo de frente com a realidade, acendiam uma certa vontade de arquitectar uma queimada.  Não vou discutir se a coima  para a transgressão seria a correcta. Percebo o ímpeto mas, não sendo jurista, nem entendedor de coimas, não sei qual é a pena certa para quem não tem pena de voltar a uma sociedade do lá atrás.

Mas, como temos de ser contra todo o tipo de descriminação proponho, mais que dissertar sobre esses 5093, discutir sobre os 3067 que usam as calças demasiado justas na fruta. Os 6132 que não passam o tártaro por água. Os 7986 que moram no lado sem sol da vida. E, acima de tudo, os 110 524 que perderam a capacidade de falar.

Não é bem de falar, é daquela parte especifica do falar que se chama ouvir. Falar as pessoas falam, agora ouvir... Porque se ouvissem só um bocadinho para lá das vozes que ouvem sempre saberiam que o Andrade do talho rosna a vegetarianos. Que o Eng. Fonseca acerta o passo à mulher. Que a Rosália se sente um farrapo do chão faz meses e um dia destes ainda faz uma asneira da qual mais tarde não se pode arrepender. Que o Amaral dos seguros tem um pó de morte ao Almerindo bate chapas desde daquela vez que o gajo se entusiasmou e lhe apalpou o cu. Que o Drº Felismino não paga os impostos e ainda por cima é advogado. E que o sujeito com a pedra na mão tem telhados de vidro e deita-se na cama que ele fez a meias com as circunstâncias. 

A surpresa devemos sempre, pelo menos, fingi-la. Agora os sintomas do choque devem estar controlados pela profilaxia da atenção ao que gira à nossa volta.  Às vezes é só espreitar o mundo do outro e perceber que particularidades ele por lá esconde. Algumas são diferentes das nossas.