Opinião

Leiria? Isso onde é?

12 nov 2023 10:22

Passámos da sombra de Fátima à sombra da Nazaré sem passar pela casa de partida 

Quando era puto, irritava-me muito que Leiria não fosse mencionada no Boletim Meteorológico da televisão. A mim e, seguramente, a todos os leirienses. Uma capital de distrito ignorada durante anos a fio, por motivos que ainda hoje me escapam.

Ultrapassada essa invisibilidade, tenho, nos últimos tempos, “descoberto” um novo tipo de problemática similar, mas ainda mais grave: o total e absoluto desconhecimento da cidade de Leiria por parte de quem me pergunta de onde sou.

E não pensem que são poucos, ou que é só de vez em quando. Não. Seja no trabalho, onde há sempre gente nova a entrar, ou na vida social, que não sendo intensa, também não é nada de se desprezar, é frequente saltar a pergunta: “Ah, és português? Ainda agora estive em Lisboa (ou Porto, ou Algarve, conforme a época do ano) e adorei o teu país. De onde é que és?”.

Com o orgulho que caracteriza qualquer leiriense - se fosse um desenho animado, seguramente que os olhos se transformavam em brisas, o coração em Castelo a bater fora do peito e o sorriso em morcela de arroz -, respondo sempre com uma pronúncia e dicção o mais imaculadas possível: LEI-RIA.

Do outro lado, invariavelmente, o silêncio, seguido de um demolidor “isso onde é?”. E lá tenho de sacar da ladaínha do costume: “Sabes a Nazaré, das ondas gigantes? Pois, Leiria é a capital de distrito”. “Ah, bom”, dizem-me, “Nazaré, claro, mas de Leiria nunca tinha ouvido falar”.

E, a cada vez, sem excepção, sou tolhido por uma imensa tristeza e assaltado pela eterna dúvida: porquê, meus caros conterrâneos? Porquê?

Passámos da sombra de Fátima à sombra da Nazaré sem passar pela casa de partida. Não sei de quem é a culpa, nem sei se é culpa de alguém em particular, mas alguma coisa nos está a escapar.

Só para, de forma muito resumida, constatar o mais óbvio, temos uma gastronomia ímpar, um património monumental de excelência, uma actividade cultural com eventos capazes de atrair públicos internacionais…

Como é que não há um espanhol, um catalão, um inglês, um francês, ou um italiano que seja, que me diga: “Ah, Leiria, já sei. Aquela cidade perto da Nazaré e de Fátima, com um castelo incrível, onde fui comer um bacalhau na brasa e um leitão do outro mundo. Recomendou-me um amigo que o ano passado lá tinha ido a um festival impressionante”. Expliquem-me, se souberem.