Opinião

Meia Verdade

22 dez 2016 00:00

Ali, onde às quatro horas é noite cerrada e onde o dia só muito de vez em quando é dia, tem de se fazer muito de outra maneira.

Escrevo hoje com o prazer abstruso de bater nas teclas com a cabeça feita em água depois de um interminável regresso da Polónia. Tudo tem um peso e uma medida e se regressar de Varsóvia é fácil, regressar de Gdańsk não. No entanto, cá estou a olhar para a luz do sol como se nunca a tivesse visto. Que mais posso pensar hoje se não na Capital do Âmbar, na enorme cidade que se desdobra em três, todas cidades – Gdańsk, Sopot e Gdynia – todas uma mesma cidade?

A cidade velha é um deslumbramento. Umas dúzias de ruas, uma dúzia de monumentos – igrejas e edifícios notáveis – que fazem com o cenário das fachadas das casas e o burburinho intenso das pessoas uma espécie de teatro da vida sem luz natural verdadeiramente surpreendente para quem vem do Sul. Ali, onde às quatro horas é noite cerrada e onde o dia só muito de vez em quando é dia, tem de se fazer muito de outra maneira. Sobretudo coisas simples como andar ao ar livre e olhar.

Fizeram a cortesia de me levar a ver o portão da casa de Lech Wałęsa num subúrbio a caminho do meu hotel. Contaram-me então a história de uma cidade destruída durante a guerra e reconstruída durante os anos 50 e 60 pelo governo “comunista” numa revisão histórica furiosa visto que se teriam demolido sistematicamente todos os traços de influência germânica que desde o século XIV marcou Gdańsk, então a Cidade Livre de Danzig, e privilegiando apenas as influencias arquitectónicas holandesas e francesas.

*Dramaturgo

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