Opinião

Memória curta

6 out 2016 00:00

Também não entendo os muros que foram sendo construídos na Bulgária, na Hungria, na Grécia (Nea Vyssa), em França (Calais) e em Espanha (através de Ceuta e Mellila), mais os que estarão ainda na calha.

Não entendo que de Aleppo, no século XXI, nos cheguem imagens em que tudo o que deveria ali existir tenha sido substituído pelo silêncio absoluto do betão esburacado e contorcido; uma ruína coberta de pó e intoxicada pelo fumo negro provocado pelos pneus em chamas com que os habitantes que restam tentam impedir a visibilidade aos aviões. Quem lá vivia, ou foi morto, ou fugiu, ou apenas sobrevive agora por entre escombros e bombardeamentos talvez já em nome de coisa nenhuma.

Não entendo que na Hungria um referendo esclareça que 98% dos 42% de votantes se declara contra a aceitação da quota de refugiados atribuída a este país pela UE, numa recusa de ajuda que não poderá deixar de lhes ser dada, sob pena de o Inverno que se aproxima fazer cemitérios das estradas e dos campos em que se amontoam. E a Hungria não está sozinha, já que vários Estados da Europa de leste pensam exactamente o mesmo, absurdamente esquecidos de uma difícil história recente!

Também não entendo os muros que foram sendo construídos na Bulgária, na Hungria, na Grécia (Nea Vyssa), em França (Calais) e em Espanha (através de Ceuta e Mellila), mais os que estarão ainda na calha, iguais ao que um dia, há apenas vinte e sete anos, foi derrubado enquanto um mundo em hossanas assistia ao feito bendizendo a liberdade e fazendo juras de não deixar a barbaridade que o construiu cair no esquecimento!

*Professora de dança

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