Opinião

Miss Marvel

23 ago 2022 21:45

Triste mundo este, feito de colunas

Confesso que deixei de acreditar no que leio nos jornais. Lamento por isso.

Sempre confiei nos colunistas profissionais para nos ajudarem a obter respostas, novas perspectivas.

Falharam-nos redondamente. Na pandemia, na guerra. Caiu-lhes o véu. Apenas pessoas. Como nós.

Leram um bocado mais, talvez. De pouco lhes serviu. Sentem-se imbuídos de uma superioridade, que divide para nada dizer, pulverizando o que já está fragmentado.

Por isso, prefiro ver as aventuras da Marvel.

Desde pequeno que me entretém, que me formam, pela mão do mestre Stan Lee. Foi ele quem me ensinou os nomes dos Deuses do Olimpo, quem me revelou onde era Valhalla.

Foi através da sua imaginação científica que mapeei o mundo; que ouvi falar, com espanto, de um acelerador de partículas.

E a Marvel continua o seu legado, protagonizado por heróis de todas as cores e feitios, etnias e sexualidades, de uma forma pioneira e sem grandes teorias, justificações, sem militância agressiva.

Sem as “coisas do ódio” que pagam o salário dos especialistas que nos trocam as voltas com cada volta que dão, e que para se sentirem bem com o que dizem fazem mal aos outros. Mal esse que, perversamente, os sustenta.

Acabei de ver na Disney + a série Miss Marvel, uma heroína muçulmana, de ascendência paquistanesa, que vive em New Jersey, viajando, à descoberta das suas raízes.

Um dos episódios descreve a grande Partição da Índia (1947), esse grande atentado de terra queimada, testamento do “Império Britânico” (Raj), que durante um século oprimiu a Índia e que, no fim, por pura maldade a dividiu religiosamente, desta feita não para a conquistar, mas para a (tentar) destruir.

Pela ordem de “ideias” que agora tudo domina, é melhor nem pensar ir a Inglaterra trabalhar ou passear por causa do seu passado imperial (do qual ainda se sente o perfume em Gibraltar ou Malvinas), esta ordem de ideias que domina o nosso entendimento, o reino dos sentadinhos no sofá a destilarem ódio sem nunca terem visitado as pessoas de que falam sem nunca, mas mesmo nunca, as terem conhecido ou feito questão de as conhecer.

Triste mundo este, feito de colunas.