Opinião

Música | "O que salva a Humanidade é que não há quem cure a curiosidade”

15 mar 2020 20:00

"O que salva a Humanidade é que não há quem cure a curiosidade. Tudo o que nunca foi achado ficará conhecido se procurado com curiosidade." Parecem dois versos simples estes que o brasileiro Tom Zé evoca numa das suas canções, mas a sua pertinência parece cada vez mais gritante nos dias que correm.

É difícil falar de música quando atravessamos um momento crítico que nos está a obrigar a repensar tudo o que tínhamos como garantido no dia-a-dia e que constituirá, inevitavelmente, um ponto de viragem e de mudança na evolução da nossa sociedade.

Questões de saúde pública, de medo e de terror sobrepõem-se a tudo o resto e corremos o risco de aceitar (e defender) concessões e mudanças comportamentais que vão comprometer o estilo de vida que mantemos e defendíamos.

No meio de todo o ruído e receio, as viagens e os eventos públicos são os primeiros sectores a desmoronarem-se que nem um castelo de cartas e se há quem advogue que precisamos de parar durante umas semanas e depois tudo volta a uma, aparente, normalidade também começam a crescer os indícios de que, tão cedo, nada será como dantes e, até uma situação de possível vacinação (que deverá demorar pelo menos mais um ano) afigura-se um quadro negro para muitos sectores.

De repente, em poucos dias, constatámos o cancelamento da maioria de eventos e de milhares de voos e se há uma ideia basilar que daqui se pode extrapolar, é que, quanto menos se viajar e quanto menos contacto houver entre pessoas, menos possibilidade há de transmissão de um vírus, mas mais se tende a propagar o medo e a desinformação.

A quarentena (efectiva ou não) que se afigura e os efeitos que se podem verificar em vários sectores da economia só podem ser minimizados com uma profunda reflexão, onde temos todos de pensar de que forma podemos contribuir e repensar tudo aquilo que fazemos, para que consigamos ultrapassar esta adversidade e continuar a trabalhar para uma convivência sustentável e democrática.

Sem qualquer pessimismo infundado mas consciente de que não estamos perante uma crise de duas ou três semanas é cada vez mais importante (e mais difícil) estar atento, informado e conseguir, o mais rapidamente possível, adaptarmo-nos a novos contextos e novos paradigmas em tudo aquilo que fazemos.

E nada nos dá mais esperança do que pensar que esta fase pode ser ultrapassada e que este momento pode ser um ponto importante para parar, repensar e adaptar. A par da ciência, a educação, a civilidade, o planeamento, a criatividade e a cultura nunca foram tão importantes quanto agora.

O mundo em redor muda de repente, mas nós podemos e devemos continuamos a tentar procurar alternativas a partir da nossa rua e do espaço onde vivemos, para defender a evolução civilizacional que acreditamos ser a melhor.