Opinião
Ninho vazio, ninho cheio
Importa olhar para os tantos cursos que existem e tanto absorvem esperanças e sonhos
Começou mais um ano letivo! E com isso mais uma “fornada” de novos estudantes chegaram ao ensino superior.
A esperança de um novo futuro. Própria. Da família. Da sociedade.
Outros entretanto saíram e chegaram ao mercado de trabalho. Uns encontram nele um lugar, a fazerem o que gostam e sonharam. Outros infelizmente não.
Toda esta dinâmica tem um impacto enorme nas famílias, a diferentes níveis.
Maior quando implica o filho sair de casa, mudar-se para outra cidade, assumir responsabilidades que até então provavelmente quase desconhecia.
Ainda maior quando, depois de tanto esforço e investimento pessoal, familiar e social, o retorno não acontece.
Segundo Duvall, são oito as etapas de uma família nuclear (pais e filhos), focadas nos filhos e consequentes exigências particulares e por vezes, muitas até, com implicações na saúde, mental e física, dos seus membros: casal sem filhos; com filhos: lactentes (menos de 3 anos), pré-escolares, escolares, adolescentes, jovens adultos a sair de casa; ninho vazio (depois da saída dos filhos); reforma/viuvez.
Olhando para a sociedade atual, parece que Duvall se esqueceu de uma etapa cada vez mais comum. O ninho cheio. Altura em que, depois dos jovens adultos terem saído de casa para a sua formação superior, a ela regressam por falta de lugar no mercado de trabalho.
O ninho vazio, característico do período pós-filhos, em que os casais se readaptam à vida a dois está a desaparecer, ou a demorar muito a acontecer. Depois de tanto investimento, os filhos regressam a casa.
Alguns cursos são becos sem saída. Ora por não terem a designação certa, impedindo o acesso a carreiras onde poderiam ser excelentes. Ora porque nem ofertas de emprego para a sua área de graduação existem.
E fica a sociedade em mãos com o famoso exemplo dos caixas de supermercado com excesso de qualificação. Sem qualquer desmérito para a profissão, entenda-se.
E esta geração de pais mantem-se o centro da sociedade, ao invés de passar o testemunho à seguinte. E com isso, a pergunta: quem pagará as nossas reformas?
Se somos nós que continuamos a suportar os nossos filhos “anos a fio” antes de conseguirem ser produtivos, e por isso contributivos para o estado social?
Importa olhar para os tantos cursos que existem e tanto absorvem esperanças e sonhos.
Refletir se são de facto úteis. E reorganizar todo o sistema de ensino para dar respostas efetivas às necessidades da sociedade.
Faltam profissionais em diversas áreas, mas mais vagas não se abrem nos cursos que a elas dão acesso. E mantêm-se vagas noutros cursos que todos sabem sem saída.
Lobbies? Será? Não sei. Só sei que muitas esperanças se perdem pelo caminho. E muitos ninhos cheios se criam e perpetuam. Mas não basta ter emprego.
É preciso também ser nele feliz. Só assim se é verdadeiramente produtivo e útil para a sociedade. Só assim o ninho fica vazio, de filhos, mas cheio de realização, individual, familiar e social.
Só assim as famílias, em qualquer etapa, podem ser mais saudáveis.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990