Opinião

Nord Stream 2 e Navalny

20 set 2020 12:39

Uma questão como a de Navalny pode ser o rastilho para o agravar das tensões na Europa que vive tempos de turbulência sem precedentes com a crise migratória, o Brexit e presentemente a crise sanitária da Covid.

No meio da pandemia pouca atenção foi dada a um acontecimento que demonstra bem como se desenrola grande parte das “guerras” do século XXI.

Aleksei Navalny, líder da ala próoc idental da oposição ao presidente da Rússia, adoeceu na sua terra natal e foi transferido dias mais tarde para um hospital em Berlim.

As autoridades alemãs afirmaram, prontamente, que Navalny tinha sido envenenado com novichok, agente neurotóxico desenvolvido nos tempos da União Soviética, e que apenas uma pessoa deveria ser responsabilizada – Vladimir Putin, presidente a Federação Russa.

De imediato vozes no seio do governo alemão, secretário geral da NATO, mesmo líderes da União Europeia e Mike Pompeo, secretário de Estado dos Estados Unidos, exigiram uma resposta dura e firme para com Putin.

Para todos, só um conjunto de sanções económicas seria eficaz para prevenir que no futuro casos semelhantes.

O governo russo rejeita qualquer responsabilidade no c aso e afirma mesmo, pela voz de Serguei L avrov, ministro dos negócios estrangeiros russos, que tudo não passa de uma encenação, de uma c ampanha de desinformação por forma a aplicar sanções e evitar a conclusão do mega projeto Nord Stream 2 (NS2) - de gasoduto destinado a abastecer a Alemanha com gás russo e que se encontra em fase de conclusão.

Este gasoduto permite à Europa receber gás russo a um valor muito inferior ao que os EUA pretendem vender. A alternativa ao gás russo é o gás de xisto americano, mais caro e que tornaria a Europa ainda mais dependente dos EUA. Sem dúvida que este caso aparece no momento certo para travar o projeto do NS2.

Os Estados Unidos, na figura do seu presidente, têm tentado de todas as formas travar o Nord Stream 2 (90% está construído), que já se encontra suspenso desde o final do ano passado dev ido a sanções americanas.

É pouco verosímil acreditar que Vladimir Putin ou uma outra importante figura do governo russo tivessem realmente responsabilidades no possível envenenamento de Navalny numa altura que o mesmo pouca ou nenhuma simpatia recolhe junto da grande maioria dos russos.

Navalny não representa qualquer risco ao “regime de Putin”, sua capacidade de influenc iar é quase nula, como demonstram os resultados das eleições regionais do passado fim de semana em algumas regiões russas.

Não é exagero afirmar que não passa de mais um caso encenado nos bastidores de grupos de interesse que não olham a meios para atingir os seus fins.

Uma questão como a de Navalny pode ser o rastilho para o agravar das tensões na Europa que vive tempos de turbulência sem precedentes com a crise migratória, o Brexit e presentemente a crise sanitária da Covid.

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990