Opinião
Novela sem fim à vista
O mês de Dezembro de 2014 foi de festa redobrada.
Para os mais optimistas, crentes e, até, ingénuos, o mês de Dezembro de 2014 foi de festa redobrada, com Assunção Cristas, na altura ministra da Agricultura, a trazer a boa nova da resolução de um problema tão antigo quanto nefasto, que há décadas envergonha esta região.
Qual Pai Natal ou Rei Mago, Cristas presidiu à cerimónia de assinatura do contrato de financiamento das obras da Estação de Tratamento de Efluentes Suinícolas (ETES), o presente pelo qual esta região há muito ansiava na expectativa de ver resolvido um problema ambiental pouco próprio de um País que se diz evoluído.
No entanto, chegado o tempo definido para a obra estar concluída, a Recilis, entidade responsável pela mesma, solicitou a prorrogação do prazo para a... iniciar, sendo que ainda nem foi adjudicada!!!
Sim, é isso mesmo... passados três anos sobre a assinatura do contrato, mais uma vez, nada foi feito, como se o que está em causa fosse uma coisa menor e não tivesse as consequências que tem na qualidade de vida de milhares de pessoas, nos negócios do turismo e na fauna e flora da bacia hidrográfica do rio Lis.
Dizem agora os responsáveis que é necessário perceber melhor a “viabilidade” e “sustentabilidade” económica do projecto para se poder avançar com a adjudicação da obra, ficando a população a tentar encontrar uma justificação para só agora, quando a mesma devia ser inaugurada, se estar a pensar no assunto.
Então, isso não seria matéria para se ter estudado antes da assinatura do contrato de financiamento? Por falta de tempo não terá sido, pois este problema arrasta-se há mais de três décadas, período em que já foram feitos estudos e mais estudos e gastos muitos milhares de euros.
O que não parece haver é muita vontade para resolver o problema, fazendo-se de conta que se está a tratar do assunto enquanto se vai adiando o que tem de ser feito para um futuro incerto, futuro esse que, se o projecto perder o financiamento público, será com certeza longínquo.
O interessante era perceber se todos os sectores de actividade económica se lembrassem de dizer que não são sustentáveis economicamente com as obrigações ambientais a que estão sujeitos e, de repente, despejassem para o ambiente os seus resíduos, as águas não tratadas e os fumos não filtrados.
Nada que não aconteça noutros países, onde parece estar sempre nevoeiro denso sobre as cidades, onde as máscaras fazem parte da indumentária do dia-a-dia e onde a esperança de vida é menor 10 a 15 anos que em Portugal.
Mais do que sustentabilidade económica, o que parece faltar ao sector suinícola é vergonha e respeito pelas pessoas, esquecendo-se que, muitos dos que hostilizam com as suas práticas, são seus clientes e que um dia, se pensarem bem, poderão deixar de o ser.
*Director do Jornal de Leiria