Opinião
“November Rain”
Eu colocaria todo o meu amor e saber fazer, para começar de raiz um museu para homenagear o que vai no coração das mulheres
Não gosto do mês de novembro… não lhe tenho particular afeição desde que um amola tesouras, há uns anos trouxe a “cold November rain”, num presságio anunciado pelo assobio do seu realejo… e o chão me fugiu debaixo dos pés… e se me empederniu o coração.
Hoje quero falar-vos de amor e desamor e de mulheres e de corações que ora mirram ora se ampliam para caber… para fit in como se diria na língua anglófona.
Será assim com a maioria das mulheres, ora insuflam ora mirram como um balão sem ar… E tudo se resume ao amor… a uma capacidade altruísta de se dar ao mundo, aos outros, não raramente, a tudo menos a si (próprias), quando deveria ser exatamente o inverso.
Há museus para tudos e para nadas, e há até um museu para as relações falhadas… Eu colocaria todo o meu amor e saber fazer, para começar de raiz um museu para homenagear o que vai no coração das mulheres… mulheres que amaram intensamente a sua vida inteira, à maneira dos outros, ou à sua própria maneira. E não estou a falar só de amor romântico… mas de amor fraterno, verdadeiro, ora ponderado e tranquilo, ora intenso, ora arrebatador.
“Tudo no amor faz do nada um tudo”… diz a Manuela e os Clã. “Tudo do amor” pensa a bell hooks, “faz-nos sentir mais vivos. Quando vivemos num estado de desamor, sentimos que mais valia estarmos mortos; tudo dentro de nós é silêncio e imobilidade. “Às vezes o amor, no calendário, noutro mês, é dor, é cego e surdo e mudo”… diz o Sérgio Godinho.
E depois há o Paulo Kellerman e as suas Nem Marias Nem Manéis e o murro no estômago de beleza e verdade que é o espetáculo Nem Bestas, Nem Santas, que nos mostraram no m|i|mo, no domingo passado, e cuja reverberação vai manter-se durante muitos e longos anos no âmago de por quem lá esteve… Uma ode às mulheres que amam, que se amam e que ousam ir em busca da sua verdade e não daquilo que todos esperam delas.
Mulheres que aos olhos de outrem se agigantam e assustam… e que se culpam apenas por querer mais e por ser elas próprias… e as palavras não são minhas são novamente de hooks, “o amor cura (…) quando abrimos o coração ao amor podemos viver como se tivéssemos renascido, sem esquecer o passado, mas encarando-o de forma diferente, permitindo que ele viva em nós de uma nova maneira”.
E reverberam em loop as palavras do Paulo e da Andreia “Gasta o coração. Consome-o amando-TE. É para isso que serve. Quando morreres, devolve-o gasto e vazio. É apenas um recipiente. Gasta o coração. Consome-o amando-TE. É para isso que serve. Gasta o coração. É para isso que serve. Gasta o coração. Consome-o amando-TE. Porque nada dura para sempre seja um coração empedernido ou a ‘cold November rain’. Gasta o coração…consome-o amando-TE!”
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990