Opinião
O algodão que não engana
Entusiasmado por um um amigo brasileiro, neto e filho de portugueses, fiz o teste ADN
Apesar da minha paixão pela História, sou sincero, nunca tive grande empenho em conhecer os meus antepassados. Verdadeiramente só me têm interessado os que a minha memória retém – em fotos, ou na relação directa. Bisavós, avós e pais, naturalmente.
Sei de pessoas que se revêm nos sucesso dos seus ancestrais, ou nas linhagens de onde provêm. Mas isso sempre me pareceu estranho: que eu pudesse abusivamente viver e rever-me ainda nos méritos, ou feitos, ou estatutos que nunca foram nem poderão ser os meus. Mas sempre me interessou conhecer as minhas raízes rácicas, ou étnicas, saber que ligações genéticas teria com essa grande família que é toda a Humanidade.
Entusiasmado por um um amigo brasileiro, neto e filho de portugueses, fiz o teste ADN. Uma revelação! 40% ibero, quase 10% dos lados da Escócia e Irlanda, um pouco nórdico, mais de 25% da Europa central (região da Polónia), 4% grego e italiano, 8% Norte Africano (e com raízes no Gana) e outras ligações menos marcantes.
E a minha mulher: menos íbera, bastante italiana, e com antepassados de uma etnia muito localizada junto à Suíça. E também norte africana, para aí uns 6%. De repente, com um teste ADN descobrimos centenas ou milhares de parentes em todo o mundo. De primos e primas. Nos 5 continentes. Alguns ainda com apelidos comuns, em França, na América, na Austrália, noutros países europeus, cujos pais, avós ou bisavós saíram na chamada “Diáspora”, outros com nomes e apelidos que nada têm a ver com o português. E, ainda assim, “primos”.
Que sensação indescritível. Todos os que conheço, que fizeram o teste ADN, portugueses de gema, têm antepassados norte-africanos. Mais que natural. Desde logo porque os Árabes dominaram a Península Ibérica e aqui viveram quase sete séculos, numa relação que se perpetuou em descendência comum. Esquecemo-nos disso, porque a nossa História passa ao de leve sobre esses tempos…
Que pena os testes ADN não existirem ainda nos anos 20, 30 e 40 do século passado! Como seria interessante conhecer as raízes étnicas de Hitler, Goebbels, Eichmann, Göring, Himmler, ou Mussolini, por exemplo. Estes “puros” ficariam estupefactos com as suas misturas ancestrais.
Todos nós deveríamos ter a possibilidade de fazer um teste ADN, porque se alarga, num instante, a nossa “família” – no tempo e no espaço. É fantástico! Com um teste ADN nenhum de nós poderá ser racista ou xenófobo. (A não ser, claro, que se ache tudo isso uma grande aldrabice e se acredite que a Terra é plana e que nunca se chegou à Lua!)