Editorial
O Lapedo num contentor
O Vale do Lapedo já era uma relíquia da natureza antes da importante descoberta
Se fizermos uma pesquisa sobre o Menino do Lapedo na página digital da Câmara Municipal de Leiria, ficamos a saber que a descoberta da primeira sepultura do Paleolítico Superior da Península Ibérica aconteceu em Dezembro de 1998, ali para os lados de Santa Eufémia, a escassos 10 quilómetros da cidade de Leiria.
Não estamos a falar apenas da descoberta de um esqueleto bem preservado de uma criança pré-histórica, mas de um manancial arqueológico, classificado pelos especialistas como “tesouro nacional” e “tesouro da Humanidade”.
Decorridos quase 23 anos, o tema ainda não se tornou causa de todas as eleições, como o aeroporto em Monte Real, a modernização da Linha do Oeste ou a resolução da poluição gerada pelas suiniculturas.
O Vale do Lapedo já era uma relíquia da natureza antes da importante descoberta.
Tem por lá umas construções estranhas, foi-lhe acrescentado um parque de merendas e, no cimo do penhasco, foi criado um Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho, em forma de contentor.
No Museu de Leiria, a história deste achado está melhor explicada. Mas, sendo este sítio um “tesouro nacional” não merecia um pouco mais de atenção?
Pode não parecer, mas duas décadas são sinónimo de vários eixos estratégicos, quadros comunitários e planos de desenvolvimento que podiam ter sido aproveitados.
Porém, constata-se que, no concelho de Leiria, capital de distrito e sede da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, continua a existir um vale com potencial turístico e cultural a nível nacional e até mundial, que, grosso modo, se resume a um resumo da importância do local para a História da nossa evolução.
Será que queremos guardar só para nós a tranquilidade daquele canhão que rasga o maciço calcário, que em tempos foi mata real?
E não encontramos sentido num projecto de escala europeia para aquela zona?
Os resultados de novas escavações, revelados na semana passada, confirmam a existência de vestígios de comportamentos ancestrais de diversas gerações de caçadores-recolectores paleolíticos no Vale de Santa Eufémia.
Ou seja, quanto mais se estuda o local, mais se encontram sinais de relevância arqueológica.
Agora experimentem colocar-se na pele de um curioso da arqueologia, ou de um simples turista que tropeçou por acaso na história do Menino do Lapedo, por exemplo na internet, e decidiu deslocar-se a Leiria para mergulhar mais a fundo nesta página da História.
Com que impressão vos parece que vai ficar?