Opinião

O medo, esse maldito!

8 jan 2021 15:02

De facto, ter alunos que me respeitassem por medo, receio ou temor e também por submissão, foi coisa que jamais quis na minha relação com os alunos!

A propósito do horrível debate entre João Ferreira e André Ventura e da rudeza e fealdade com que este último expressou a sua doutrina populista, lembrei-me de que há uns anos foi-me enviado, para a Oficina do Comportamento, na escola, um aluno expulso de uma sala de aula por mau comportamento.

Trabalhámos sobre o assunto e ao sairmos do espaço, dirigimo-nos para o bar.

No percurso até lá, o Mário, era assim que se chamava esse meu querido aluno, abriu-me com delicadeza todas as portas por onde tivemos de passar.

Isto é, provou-me ter conhecimento e comigo praticar os usos considerados corretos socialmente. Mostrou-me ter civilidade, saber ser cortês, em suma, revelou-se-me uma pessoa educada e respeitadora.

Mas se era assim que sempre se comportava comigo, nas aulas e na oficina, como justificar a sua má educação noutras aulas?

Claro que como professora me coube refletir sobre esta situação e hoje trago aqui a hipótese que após ser “testada” mais me satisfez para explicar esta dualidade no comportamento do Mário.

Para facilitar, vou pegar nos significados do termo respeito que li num dicionário: sentimento que nos impede de fazer ou dizer coisas desagradáveis a alguém; apreço, consideração, deferência; acatamento, obediência, submissão; medo, receio, temor.

De facto, ter alunos que me respeitassem por medo, receio ou temor e também por submissão, foi coisa que jamais quis na minha relação com os alunos!

A empatia que me foi ensinada pelos meus pais e que me obriga a perceber o outro pondo-me no seu lugar, e a assertividade que aprendi a ter porque a estudei nos livros de pedagogia, e que me leva a expressar os meus pontos de vista com frontalidade e sem hesitações, foram dois pilares preciosos da minha relação pedagógica com os alunos.

E de tão bons resultados que obtive quis que também, ao mostrar-me assertiva e empática, que eles, os meus alunos, aprendessem comigo a assim ser.

Observei que quando as relações entre indivíduos se alicerçam no medo que uns sentem pelos outros se geram inseguranças e respostas animalescas.

Como único objetivo, essas respostas apenas procuram a defesa e, por isso, desencadeiam ataques violentos: nos animais uma luta física e musculada; nos humanos um confronto rude, feio e incivilizado!

Mas voltando ao horrível debate, se no meu aluno Mário eu vi a necessidade de uma criança ser educada para a assertividade e empatia e para mim tal é uma das grandes finalidades do ensino e da aprendizagem na escola pública, já no candidato Ventura eu vejo um oportunista conhecedor das consequências dos medos geradores de inseguranças em pessoas temerosas e submissas.

Dizem-me, por exemplo, que muitos polícias estão com este candidato e eu percebo!

Por dever estão ao serviço do povo português (e todo somos todos) e alguns apenas com a total descriminalização do uso da arma que carregam se sentirão seguros.

Ora, como em democracia tal é inadmissível, anseiam pela mudança do regime!

Mudança que alguns também desejam tal o medo que têm dos direitos alcançados pelos outros ou que andam sedentos de um seguro marasmo social (diga-se, só possível nas ditaduras de esquerda ou de direita) porque a liberdade da democracia os deixa inseguros e com medo!

Ó maldito medo! Sem ti o Mundo ficaria bem melhor e mais bonito.

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990