Opinião

O que aí vem...

10 nov 2016 00:00

Aproximando-se as eleições autárquicas, que se realizarão dentro de um ano, era já de esperar que tudo o que de pior a política tem emergisse nesta altura, fase em que dentro dos partidos se tomam decisões sobre quem irá a jogo.

A história recente das lutas intrapartidárias para a eleição de líderes das estruturas locais e para a nomeação de candidatos às eleições autárquicas e legislativas tem mostrado o quão rasteira é boa parte da classe política portuguesa. Na lógica do vale-tudo para atingir os objectivos, têm sido diversos os casos que envergonham o conceito de democracia e que nos obrigam a questionar o estado de evolução do nosso País, nomeadamente no que diz respeito aos valores e aos princípios.

Sem ser necessário sair desta região, rapidamente nos recordamos de episódios eleitorais com maior número de votos do que de votantes, de sondagens falsificadas, de troca de acusações a usar o que de mais brejeiro e ofensivo oferece a língua portuguesa, e mesmo de votações efectuadas por pessoas já falecidas ou ausentes no estrangeiro. Sob a ambição do poder, nada parece ser questionável para quem o tenta alcançar, mesmo que se trate de mentir, corromper, ameaçar ou chantagear.

Aproximando-se as eleições autárquicas, que se realizarão dentro de um ano, era já de esperar que tudo o que de pior a política tem emergisse nesta altura, fase em que dentro dos partidos se tomam decisões sobre quem irá a jogo. Na realidade, é agora que verdadeiramente se decide quem serão os próximos presidentes das câmaras, com uns poucos militantes que formam as estruturas partidárias locais a decidirem em quem irão os eleitores votar.

Geralmente, é nesta fase que se estabelecem alianças, se prometem cargos para o futuro, se conspira para denegrir os possíveis adversários, se luta com todas as armas em que se consegue pôr a mão. Não será muito diferente de partido para partido, sendo mais visível, como é óbvio, atendendo à dimensão e probabilidade de alcançar o poder, no PS e no PSD.

No caso dos sociais-democratas, respeitando uma tradição que vem de longe em Leiria, o processo de escolha do candidato à câmara já resvalou para moldes pouco dignos de um partido que apresenta pergaminhos de governação do país e que dirige muitas das autarquias nacionais, encontrando-se os elementos das estruturas locais em verdadeiro pé de guerra.

Em causa, a confiar nas declarações recolhidas pelo Jornal de Leiria, está um estudo interno que foi transformado em sondagem pública, supostamente encomendada pela estrutura distrital, mas sem o conhecimento de vários dos seus dirigentes, que colocou a sufrágio quatro personalidades sem o conhecimento e consentimento de três delas.

Como seria de esperar, a troca de acusações não se fez esperar, havendo mesmo quem fale em sondagem à medida para servir os interesses de um dos interessados em liderar a autarquia. Tudo se torna mais grave se pensarmos que neste imbróglio estão envolvidas personalidades com responsabilidades públicas importantes - actuais e antigos deputados, presidentes de câmara, ex-governantes e vereadores – mas também que será deste lote que sairão alguns dos responsáveis pelo nosso futuro. Não será precisa, portanto, muita imaginação para antever o que aí vem...