Opinião
Olhar em frente
"Não é de todo coisa de menosprezar ter Leiria assim singelamente começado a reivindicar para si, para além da óbvia geografia e do conhecimento restrito, um dos mais importantes sítios do património mundial."
Abriu esta semana o Museu de Leiria. E isto que, dito assim, parece coisa pouca é na realidade uma enormidade que só pode deixar orgulhosos aqueles que para ela de algum modo para ela contribuíram.
A exposição permanente do Museu de Leiria inicia-se com uma referência ao precioso espólio da Mina da Guimarota. Não é de todo coisa de menosprezar ter Leiria assim singelamente começado a reivindicar para si, para além da óbvia geografia e do conhecimento restrito, um dos mais importantes sítios do património mundial.
Lembro-me como se fosse hoje de ter entrado no Museu de História Natural de Londres em final dos anos oitenta com o meu filho literalmente às costas e de ter especado perante uma, então, maravilha tecnológica interativa – um planisfério gigantesco com botões que quando pressionados acendiam luzinhas um pouco pelo mundo fora. O título do dispositivo era, “Os mais importantes sítios arqueológicos do Mundo”. Tinha uma única luzinha em Portugal. E uma outra em Espanha mas essa eu sabia já mesmo sem carregar que só podia ser a Serra de Atapuerca. Talvez dez sítios na Europa. Não mais de cinquenta no Mundo inteiro.
O botão dizia, “Guimarota, Portugal”. E a luz acendia mas sem nós sabermos bem onde, é o que faz ter um país pequenino. Um pouco a norte de Lisboa, era certo. Mas onde? O nome não nos era de todo estranho.
E continuámos por ali às voltas horas e horas até a minha mulher me dizer “Já sei onde é a Guimarota. É onde vamos apanhar amoras”. E, por mais que eu duvidasse na altura, era mesmo. Não havia estrada nem rotunda ali mas havia uma autêntica fileira de silvas que nos abasteceu durante anos e desembocava para quem vinha das traseiras do Seminário a poucas centenas de metros da Mina. Nada mais nada menos do que um dos “Sítios arquelógicos mais importantes do Mundo”. Foi um amigo, o geólogo Fernando Martins, quem anos mais tarde me voltou a despertar o interesse pela Guimarota andava eu perdido, entre muitas outras coisas, pelo recife fóssil de rudistas Padrão/Caranguejeira, uma coisa ainda mais “secreta” do que a mina que, abandonado o carvão, os alemães exploraram até ao limite do razoável com a tecnologia disponivel há 50 anos. Ao fim de 98 anos de coito ejaculou-se finalmente. E não é que, contra as previsões mais péssimistas, a criança é escorreita e bonita? E olha para a frente.
Dramaturgo