Viver
Os meus filhos não são portáteis
Os meus filhos não são portáteis. Ou então é da mãe.
Ouço com gosto os meus amigos com filhos que dizem que levam os filhos para todo o lado e que é tudo na boa. Nunca deixam de ir a sítio nenhum: fazem viagens, caminhadas, jantaradas… os miúdos já estão habituados e não dão trabalho nenhum.
Rio-me descaradamente dos meus amigos que, não tendo filhos ainda, acham que um dia quando tiverem vão fazer tudo como fazem hoje. Os meus filhos não são portáteis. Os meus filhos aborrecem-se em jantaradas em casa de amigos, fazem birras de sono, querem ir para a cama deles, não dormem em qualquer lugar.
O meu Ninja ainda dorme no carro, a Princesa é fina, detesta andar de carro e é um grande favor que nos faz quando dorme uma horita num Leiria/Faro atribulado. Os meus filhos precisam sempre de fazer xixi nas situações mais mirabolantes. Têm cocó e anunciam isso mesmo quando passámos a estação de serviço e já só há outra daí a 45 quilómetros. Têm fome e sede no meio do deserto, não gostam de caminhar, mas também não querem ir ao colo, não ficam especialmente maravilhados com nada na paisagem, gostam é de estar em casa.
O que até pode não ser mau… às vezes… Mesmo assim, corajosos que somos, comprámos bilhetes em Setembro para vir ao Faial em Dezembro. Não porque fosse uma boa altura (que não é, está a chover há três dias e com o nevoeiro nem se vê o Pico) mas porque vínhamos visitar a avó das crianças, que estava cheia de saudades.
Daqui de onde vos escrevo, sentadinha no Peters’ a beber um Gin do Mar, como manda a tradição, revivo a aventura que foi para chegar aqui. Tentámos, sem sucesso, enfiar roupa de inverno para quatro em duas malas. A miúda ficou doente, sujeita a ser barrada no aeroporto, sujeita a contagiar o irmão (vamos ver se não será nos próximos dias). O miúdo varreu o chão do aeroporto com as mãos que depois meteu na boca (mesmo depois de eu lhe ter implorado que não) e passou a noite toda a vomitar.
O pai para além de ter medo generalizado de voar, teve direito a uma aterragem daquelas com os ouvidos a estoirar e olhava para mim, que estava a tentar convencer a Princesa a estar quieta no meu colo, a pedir ajuda mas eu não lhe podia valer. Depois de mudar uma fralda em pleno voo a passar uma zona de turbulência, ouvir 30 vezes “ainda falta muito?” e sentir o olhar reprovador dos outros passageiros porque as crianças fazem barulho e não conseguem esperar pacientemente a vez delas para ir ao WC, quem precisava de ajuda era eu. Os meus filhos não são portáteis. Ou então é da mãe.