Opinião
Os sintomas da ressaca
Alguns sectores estão já a recorrer a mão-de-obra estrangeira, nomeadamente asiática, mas outros têm tido mais dificuldade em suprir as necessidades, principalmente quando se fala de pessoas mais qualificadas.
Com Portugal ainda a tentar levantar-se da crise profunda que abalou por completo o País, são já diversos os sintomas do póscrise que o apoquentam. Ou seja, vive-se num período ainda de grandes dificuldades económicas para muitas famílias, empresas e, principalmente, serviços públicos, ao mesmo tempo que se sente já a ressaca dos anos negros que atravessámos e daquilo que aconteceu nesse período.
Entre os sintomas mais visíveis está a falta de mão-de-obra, problema a que têm aludido empresários de praticamente todos os sectores, queixando-se da dificuldade em contratar trabalhadores, e as repercussões desse constrangimento, que incluem dificuldades em cumprir prazos de encomendas ou incapacidade de as aceitar, mas também a inviabilização de investimentos, seja em novos projectos seja nos já existentes, perdendo-se oportunidades de crescimento.
Alguns sectores estão já a recorrer a mão-de-obra estrangeira, nomeadamente asiática, mas outros têm tido mais dificuldade em suprir as necessidades, principalmente quando se fala de pessoas mais qualificadas.
Daquelas que, aos milhares, se viram obrigadas a abandonar o País empurradas pela crise e pelo discurso de misaberilismo que esvaziava qualquer esperança. Se é expectável que muitos dos que saíram possam voltar, motivados por um contexto menos sombrio, mas também pelo apelo das raízes, já outros, principalmente os imigrantes de Leste, que antes da crise eram muitas dezenas de milhar, dificilmente retornarão a um País que não soube valorizá-los nem tirar partido das suas qualificações.
Se a mão-de-obra é um problema para o qual só se vislumbra resolução através do retorno dos que saíram e de uma nova vaga de imigração, também a falta de habitação, seja para arrendamento seja para compra, é um sintoma preocupante da tal ressaca.
Com a queda abrupta do sector da construção entre 2010 e 2015, período em que encerraram inúmeras empresas e em que a actividade praticamente parou, o mercado imobiliário viu a sua oferta reduzida a mínimos, facto agravado pela enorme procura registada nos últimos dois/três anos devido ao boom do turismo.
Temos, portanto, agora dois problemas que se entroncam: se por um lado precisamos de mais pessoas na economia, por outro não temos onde as alojar, fazendo os preços do que existe disparar para valores proibitivos para a maioria das famílias, com os danos colaterais a chegarem aos jovens estudantes que mudam de cidade para prosseguir estudos superiores.
Será nestas situações que quem governa tem de actuar, criando mecanismos e medidas que incentivem investimentos naquilo em que somos deficitários, ou ainda avançando com projectos próprios que possam minorar o problema no curto prazo, como está a fazer a Câmara da Batalha, de que damos nota nesta edição.