Opinião

Pandemia agrava perspectivas económicas na África

6 dez 2021 15:45

Sem solidariedade, África passará muitos mais anos de penúria

A África, em particular a África Subsariana, é um tema que não me é indiferente porque passei parte importante da minha vida profissional naquela região.

As suas potencialidades são enormes, mas parece estar ensombrada por uma “maldição” que a tem perseguido desde há muitos anos e impedido de aproveitar todo o potencial que dispõe.

Naturalmente, essas “maldições” não decorrem de bruxedos e feitiços que fazem parte das crenças e culturas de muitos povos africanos.

Resultam de factos históricos que foram depauperando aquele Continente e condicionando a mentalidade dos seus povos.

A escravatura e o regime colonial são apenas alguns exemplos das “maldições” do passado.

Mas, actualmente, sendo todos os países africanos independentes, o “bruxedo” continua, agora da responsabilidade dos próprios africanos, pelos motivos conhecidos.

A pandemia veio agravar significativamente a situação. Embora o seu impacto seja global, em África a situação é alarmante.

Desde o aparecimento da variante “delta”, as taxas de infecção na maioria da África Subsariana triplicaram ou quadruplicaram relativamente a Janeiro deste ano.

As taxas de vacinação na África Subsariana são mais lentas que noutras regiões, devido sobretudo ao açambarcamento por parte das economias avançadas, às restrições de exportação por parte dos principais países fabricantes de vacinas e à procura de doses de reforço por parte desses países.

Até Outubro, a taxa de vacinação na África Subsariana foi de 3% da sua população, em contraste com as economias dos países avançados e emergentes onde o nível de vacinação, médio, foi de 60% no mesmo período.

Neste cenário, os países africanos têm recorrido ao confinamento agravando, ainda mais, a debilidade da sua actividade económica.

O aparecimento da nova declinação da Covid-19 (Omicron) na África do Sul só agravará a situação.

Neste contexto, são fundamentais novas acções, quer por parte dos governos locais quer da comunidade internacional, visando minorar o agravamento das desigualdades – a pandemia conduziu mais 30 milhões de pessoas de volta à pobreza extrema.

O aumento do preço dos combustíveis e dos alimentos, nos últimos tempos, potencia a tragédia.

Contudo, a limitada capacidade de endividamento e de aumento das receitas fiscais desses países, em contraponto com a urgência de elevar gastos com a multiplicidade de carências sociais, humanas e de infraestruturas, demonstra a importância crítica da solidariedade e apoio internacionais.

Sem essa solidariedade, África passará muitos mais anos de penúria.

Contudo, o elevado potencial da África Subsariana continua intacto, não só pelos seus recursos naturais como por dispor de uma população muito jovem e que crescerá em dois mil milhões de pessoas até 2050, dos quais metade na África Subsariana.