Opinião
Para lá da ansiedade climática
A ansiedade deu lugar à amargura e à tristeza, porque o que agora vejo nas notícias que ainda não chegaram é a derrota da nossa espécie
Tenho de confessar que tem sido cada vez mais difícil escrever estas crónicas. É que, dantes, eu queria muito usar esta plataforma para tentar mobilizar o máximo de pessoas para a luta climática porque, se era certo que os problemas das Alterações Climáticas só se resolveriam com políticas públicas globais, também é certo, já se sabe, que quem toma as decisões políticas só desenvolveria essas políticas necessárias se se sentisse suficientemente pressionado e/ ou legitimado para tal.
Era preciso mobilizar toda a gente! Mas isso era antes, quando ainda andava preocupada, a padecer de ansiedade climática. Quando ainda achava que valia a pena gritar “fogo! FOGO!! FO-GO!!!”. Quando a raiva ainda era um motor de organização das ideias e da acção.
Hoje já não estou ansiosa. Já não estou, como alguns diriam, radical. A radicalidade está aí, e não são os activistas que a trazem, mas sim a dura realidade das coisas.
Ainda agora o Verão e o mês de Julho começaram, e em três dias bateram-se recordes de temperatura média global que os “alarmistas” mais pessimistas só projectavam para lá de 2030 - e se nada fosse feito!
As catástrofes sucedem-se, a imprevisibilidade dos pontos de inflexão para lá dos quais tudo era uma incógnita parece estar mesmo aí ao virar da esquina, as fugas em massa resultam em alarme e sofrimento social, em mais desigualdades e injustiças e em mortes tão recorrentes que já poucos nos indignamos com elas.
Notícias na televisão, já não vejo há alguns meses - não vale a pena. Não sei o que se passa, mas posso dizer que sei o que está a acontecer - porque as notícias de hoje já as vi há alguns anos. Infelizmente.
Gostava de estar enganada, gostava de estar louca. Gostava de me poder rir de mim própria daqui a uns tempos e dizer “como fui estúpida”! Mas não me parece que isso vá acontecer.
A ansiedade deu lugar à amargura e à tristeza, porque o que agora vejo nas notícias que ainda não chegaram é a derrota da nossa espécie. Já não estou ansiosa, não. Já só vacilo entre alguma acção que possa atenuar os efeitos sociais injustos de tudo isto, e a vontade de “morrer” como uma árvore - de pé. É. Hoje, já só me sinto vencida.