Opinião
Para não incomodar
Celebrações sindicais à parte, que ninguém ouse discordar que a força que move a sociedade, que o conceito que s orienta é o trabalho.
É o trabalho que gera a riqueza dos países. São os trabalhadores e empresários, que pagam os impostos e taxas que permitem a uma nação funcionar. 
Se ela funciona bem ou mal, se tem as prioridades políticas, financeiras e sociais, organizadas de forma correcta, que privilegie quem as paga, essa é outra história. Uma grossa novela, cheia de páginas que narram avanços, recuos, compromissos e lutas. 
Num mundo ideal toda a gente teria um trabalho. É uma questão de dignidade, mas também de economia e saúde pública. 
O rol das ocupações e dos cargos é inúmero. A sua distribuição: problemática. 
Mas, repito, o trabalho é o eixo para o qual convergem todas as decisões. A doutrina que organiza a sociedade e a vida. 
Trabalha-se em Portugal, na Suécia, na China, na Palestina, em Israel, na Etiópia. Se as condições são a grande variável, o trabalho é a grande constante. O trabalho permite também, medir a humanidade e a liberdade de um país. 
Ou a falta dela. A distribuição dos resultados da riqueza gerada pelo trabalho e impostos, permitem também aferir da preocupação social de quem governa. Pode-se distribuir pelos mais ricos: Mário Centeno e o Novo Banco que o digam. 
Ou então, fazer como alguns supermercados nesta crise, e redistribuir bónus pelos mais “pobres”. Que não trabalham em São Bento ou na Avenida da Liberdade, mas no Lidl do Cacém. 
É provável que se trabalhe e produza melhor na Alemanha ou na “magnífica” Suécia. 
Na Suécia, toda a gente se quedou livre das amarras do confinamento social, impostas, por exemplo, no nosso país. Mas é também na Suécia que ninguém pode comprar uma garrafa de vinho, a não ser em lojas de bebidas controladas pelo Estado-Systembolaget- por causa dos problemas de álcool da população. 
Se as creches abrem brevemente, não o fazem por mais nada do que para se conseguir que os pais vão trabalhar, produzir, pagar impostos. Pais e mães saltam das cadeiras, onde, durante semanas a fio, foram cuidadores, educadores infantis, cozinheiros, pedopsiquiatras; directamente para trás de painéis acrílicos, de máscara na boca e luvas na mão. 
Nunca deixando de pagar a chantagem das creches, da pré-escola, da escola que, mesmo sem as crianças lá ,cobram muitas vezes a totalidade que é “para não perderem a vaga.” 
Neste “negócio”, já o Estado não intervém. E a família, e os avós, que ao contrário dos Avós Suecos não vão para a sauna, nem à pesca, onde estão eles? Não podem ficar com os netos? 
Não. Porque são o grupo de risco. Porque estão presos em casa. Ou, a alimentar o negócio da China (com bicho e tudo) que são os lares. Estão na nossa censura “o que é o que velho está a fazer na rua a estas horas? 
Porque só comprou um quilo de arroz, quando devia ter carregado com cinco quilos às costas?”. 
Estão no país que não é para velhos. Estão à espera de morrer, a esconder-nos as maleitas que é para não incomodar. 
Para não darem trabalho.