Editorial

Para quando uma nova brisa do Lis?

20 mai 2021 00:00

Depois de tantos anos a investir em estudos, planos e projectos, será que é desta que se vai encontrar finalmente uma solução?

Se há coisas que fascinam neste mundo da informação é o imprevisível. O agora pode já não ser assunto amanhã, porque amanhã outro agora se pode ter sobreposto ao agora de hoje.

Inevitavelmente, a informação vai galopando ao sabor da actualidade, dos algoritmos, por vezes sem filtros, por vezes ao ritmo de acontecimentos delineados a régua e esquadro para gerarem buzz mediático.

Até que, ciclicamente, aterramos nos temas crónicos, que ressuscitam a indignação e desafiam a racionalidade, por carregarem uma linha de tempo repleta de intenções e promessas não cumpridas.

Esta semana, Leiria voltou a receber representantes do Governo, munidos de novas estratégias para, supostamente, resolver o problema da poluição provocada pelas suiniculturas na bacia do Lis.

Entre outras ideias, governantes e autarcas, prometeram apertar o cerco aos prevaricadores e apostar na valorização dos efluentes para fins agrícolas.

Mas depois de tantos anos a investir em estudos, planos e projectos, será que é desta que se vai encontrar finalmente uma solução?

Na verdade, qualquer uma destas medidas podia ter sido aplicada há anos, se tivesse existido vontade e coragem política.

Bastava, por exemplo, intensificar a fiscalização e investir a sério no tratamento dos resíduos suinícolas, convertendo-os em subprodutos orgânicos para a agricultura, um material fundamental para as culturas e que os agricultores da região acabam por ir comprar no estrangeiro.

Mais. Em 2007, depois de uma queixa apresentada ao Parlamento Europeu pela Comissão de Ambiente e Defesa da Ribeira dos Milagres, relacionada com a poluição provocada pelas suiniculturas, a Comissão das Petições ouviu as autoridades portugueses e concluiu, com base nos esclarecimentos então prestados, que a situação estava “prestes a ser resolvida, graças a toda uma série de medidas de gestão e a um programa de construção de estações de tratamento”.

Passados 14 anos, é sabido o que aconteceu (ou o que não aconteceu) com estes projectos para o tratamento efectivo dos efluentes.

Fossem as promessas traduzidas automaticamente em purificadores da água e em ambientadores fortes o suficiente para anular a brisa pestilenta que por vezes continua a soprar na cidade de Leiria, e já ninguém precisava de se preocupar.

Como isso não é possível, resta manter a esperança que este tema se converta definitivamente num não assunto, pelo menos para as