Opinião

Pensamento pandémico

29 jun 2021 15:45

A única vacina para este novo e malicioso paradigma é fazer melhor do que quem se atreve a julgar-nos. E isso nunca foi tão fácil como agora

Há um novo paradigma comunicacional que está a calar a voz da maioria, cerrando as portas ao conceito da imunidade comunitária no que diz respeito às boas relações entre todos e ao velhinho “senso comum”.

Entrámos a todo o vapor na era do pensamento pandémico em que a informação é o vírus, o sujeito o “hospedeiro”, e o receptor o infectado. Tudo é transmissão. Estamos a ir contra o iceberg. E afundaremos mas, desta vez, a orquestra nem sequer embarcou.

Já aconteceu a todos: alguém faz um trabalho, nomeadamente de carácter público, e passado algum tempo começa a receber feedback do mesmo.

Na maioria dos casos a reação é francamente positiva e, hipoteticamente, por cada 100 comentários positivos existe um ou dois negativos.

Os comentários positivos são mais ligeiros porque as pessoas que os fazem querem ter experiências boas e sabem que o encorajamento é importante; os comentários negativos são virulentos, apoiados na mentira, na “opinião” ditatorial, no ímpeto destrutivo que os alimenta e que faz os seus autores perseguirem os visados até ao ponto do assédio e, por vezes, da ameaça.

As nossas células cognitivas tendem para de imediato destacar o negativo. Somos “infectados” e passamos a maleita ao próximo.

Por exemplo, num concerto para 1000 pessoas, 995 gostaram do som, mas outras houve, digamos até por questões legítimas de gosto, que não apreciaram, fazendo uma exposição desse facto a “quem de direito” nas “redes sociais”, a fossa séptica do nosso descontentamento.

Nessa exposição (puramente pessoal) invocam-se uma autoridade e um mérito técnico-profissional que simplesmente não possui (veja-se os “virologistas” da Covid, ou os “pedopsiquiatras” do caso Noah).

Ora, muitos “artistas” irão morder o anzol, marcar uma reunião com os seus técnicos, tentar “melhorar”, por vezes até demitir a sua equipa num caso evidente de contágio pandémico, motivado pelo minoritário pensamento negativo.

Lido assim, parece difícil de acreditar, mas é isto que acontece.

Basta um fósforo para queimar um pinhal histórico; basta um dedo num botão para activar uma bomba que destrua o mundo, basta uma calúnia online (normalmente mentirosa) para cancelar a vida e obra de alguém.

Basta um aluno infectado para fechar uma escola, basta umas centenas de casos para cercar uma cidade inteira de milhões.

O mundo está assim: dominado pelo pensamento pandémico.

A única vacina para este novo e malicioso paradigma é fazer melhor do que quem se atreve a julgar-nos.

E isso nunca foi tão fácil como agora.