Opinião

Política? O que é isso?

19 mai 2016 00:00

Das 60 pessoas interpeladas, um inquérito sem qualquer pretensão de representatividade do universo de eleitores, metade não conseguiu identificar um único vereador do executivo.

A poucos dias da comemoração do dia do município de Leiria, o Jornal de Leiria foi para a rua tentar perceber qual o nível de conhecimento da população sobre a equipa que governa o concelho. Das 60 pessoas interpeladas, um inquérito sem qualquer pretensão de representatividade do universo de eleitores, metade não conseguiu identificar um único vereador do executivo, sendo que alguns dos nomes que acompanham Raul Castro na gestão do município foram referidos apenas por uma ou duas pessoas, ou mesmo nenhuma, no caso da vereadora Ana Valentim.

O argumento mais apontado para justificar o desconhecimento foi a falta de interesse pela política. Não se pode dizer que o resultado deste inquérito seja uma surpresa, sabido que tem havido um afastamento progressivo da população face à política desde o 25 de Abril. No entanto, não se pode também afirmar que não é preocupante que esse afastamento resulte num alheamento quase total face ao que define o nosso destino. Esse alheamento tem sido, aliás, uma das principais causas para que algumas personalidades de qualidade medíocre e carácter mais do que duvidoso tenham tido espaço para ascender politicamente e chegado a lugares de topo na hierarquia política do nosso País, ganhando aí balanço (leia-se conhecimentos e influência) para ocupar cargos nas principais empresas e bancos portugueses.

Por incrível que pareça, algumas das carreiras mais meteóricas a que temos assistido nos últimos anos, algumas das quais terminaram no banco dos réus, começaram com vitórias nas estruturas locais dos respectivos partidos, onde não votaram mais do que poucas dezenas de militantes. Uns poucos que, face ao alheamento da maioria, acabam por ter nas suas mão decisões determinantes para o futuro de todos e para o do próprio País, o que, como se tem visto (e sentido), não tem dado bons resultados.

A responsabilidade, como é óbvio, não está toda nos partidos políticos e na sua forma de actuar fechada e pouco receptiva à entrada de novas caras, sentida por muitos como um perigo à influência e ao equilíbrio de forças reinantes. Aí estará, sem dúvida, um dos problemas, mas todos o que estão de fora, no conforto da conversa de café e sem disponibilidade para 'perder' tempo na vida político- -partidária, também terão a sua quota de responsabilidade. Entre estes últimos, apesar de tudo, há os que se interessam pelo que se passa e os que nem querem saber, não se preocupando minimamente com nada que diga respeito à política até ao momento em que uma qualquer decisão os afecte.

Pelo que o inquérito efectuado pelo Jornal de Leiria deixa transparecer, muitos votam (os que votam) inclusive sem qualquer consciência do que estão a fazer, pois nem conhecem as pessoas em quem estão a depositar a sua confiança. Tanto desconhecimento e alheamento é, sem dúvida, um sinal de fragilidade da nossa democracia e das suas principais instituições, uma fragilidade que, em períodos prolongados de crise como a que vivemos, deve ser olhada com especial preocupação.