Opinião

Primaverena

24 mar 2020 15:30

Da janela do meu quarto andar em Alcobaça consigo ver a vida lá fora

Vejo também o meu filho, há mais de uma semana sem sair de casa, sentado no sofá, de pijama ainda, sem trabalhos de casa  (porque hoje é domingo).

Ele espera que eu acabe isto para nos jogarmos às “porradas” indoor e ele praticar as suas aulas de karaté (entretanto, suspensas) no seu saco de “boxe” preferido que sou eu.

Ontem, fomos até à varanda, ler livros de Onde Está o Wally?.

Só encontrámos dois, por causa do Sol da Primavera.
 
Lá fora, ontem, e mesmo agora, várias pessoas “aproveitam” o Sol matinal, fazem o seu ı, passeiam o fato de treino dos domingos, demoram o cão nas suas necessidades, há miúdos de trotinete.

Não são ainda uma multidão, mas será uma questão de tempo.

Fico na dúvida. Recorro aos jornais, à Internet para saber se estou a ser cauteloso demais saindo só para fazer compras, não aproveitando o bom tempo com o Fausto.

Se estou a exagerar na quarentena, afinal não tenho nem o nariz entupido. Será aquela gente lá fora, afinal, são os corajosos que se recusam a viver “no medo” e no “exagero”?

São velhos, são novos, são mais do que ontem.
 
O que encontro online é apenas e só uma grande confusão.

Uma proliferação inútil de opiniões, de escolhas pessoais, sem sentido comunitário.

Uma espécie de “cada um faz o que quer” traduzido pelo “cada um escreve o que quer”.

Quando os jornais alertam para o evidente aumento de fake news, não deveriam ter o mesmo cuidado para com os artigos de opinião que neste contexto se tornaram também difusores de desinformação? 

Em quem devo acreditar? No articulista que me diz para não viver no medo - eu que me identifico tanto com ele -; ou na médica italiana de fato Protex e máscara que nos urge para não sair de todo de casa?

É o civismo desta resposta, deste pacto social que me faz falta enquanto vejo os ciclistas lá fora a pedalarem como se nada fosse.

E nem um polícia na rua para os questionar se vão acudir à alguma necessidade.