Opinião

Prioridades

1 set 2016 00:00

Ninjas e Princesas

Parece que fizeram uma lei por causa das prioridades no atendimento em empresas públicas e privadas. Parece que quem não der a vez a grávidas, idosos, pessoas com deficiência ou adultos com crianças de colo (vulgarmente assim consideradas até aos 2 anos de idade) pode ser multado com uma coima até 1000€.

Sim, leram bem, mil batatas por um comportamento que deveria ser apenas espelho das regras básicas da boa educação e civismo. Mas a questão é complexa, mais do que aparenta. Faz-me lembrar a lei que obriga a malta a andar de capacete.

Se o motociclista não percebe a importância de andar de capacete, se acha que vale a pena o risco só para não estragar o penteado ou andar cheio de estilo de capacete no cotovelo, será que é uma cabeça que vale mesmo a pena proteger? Ou é só o Estado a parecer “mãe-galinha” enquanto arrecada mais uns euritos em multas?

Adiante. Voltando às prioridades, que foi o que nos trouxe aqui. Se numa mesma fila estiver um idoso, um cidadão portador de deficiência e uma grávida quem deve ser atendido primeiro?

Pois… não sabemos… E quem é que decide isto? Com base em que critérios? E quem é que policia esta situação? É tudo muito relativo, não é?

Quando olhamos para uma grávida não conseguimos avaliar se está em situação de risco e não pode estar em pé. O idoso terá certamente dificuldades mas à partida não tem horários a cumprir. O cidadão com deficiência até pode estar sentado numa cadeira de rodas… boa sorte a decidir quem passa primeiro, senhora que trabalha na caixa do supermercado!

Eu da última vez que estive grávida fui vaiada por passar à frente porque, segundo a senhora que estava a reclamar, “era uma grávida jovem, ainda se fosse uma pessoa com mais idade…”.

Lá está, para ter prioridade tinha de ser idosa e grávida. Faz sentido… Isto tudo tem a ver com a combinação de duas características muito nossas: o chicoespertismo e a desconfiança natural.

Quem passa à frente numa fila está armado em chicoesperto, quer ser mais do que os outros. Já na Expo 98 se falava daqueles míticos casais que pediam os filhos emprestados aos amigos para passar à frente nas filas (nunca conheci ninguém que fizesse isso…), como se andar o dia todo com crianças que não são nossas a reboque compensasse o tempo que se poupava nas filas.

Mito urbano, na minha opinião, claro. Mas uma coisa vos garanto, mesmo assim na nossa cidade ainda há muito boa gente que tem essa atenção e essa civilidade. Uma grávida nos transportes públicos em Lisboa, por exemplo, vai em pé e ainda é um alvo preferencial para os carteiristas porque não consegue facilmente ir a correr atrás deles.

Ensinemos os nossos filhos a serem melhores do que nós. Sem ser preciso recorrer a multas.