Editorial
Respirar melhor
A boa notícia é que o país já provou que reduzir CO2 não significa travar o progresso económico
No mapa invisível do carbono, o distrito de Leiria parece ter aprendido a respirar um pouco melhor. Entre 2015 e 2023, as emissões de gases com efeito de estufa caíram 5%, um resultado muito abaixo do conseguido a nível nacional (23%) mas, ainda assim, de realçar como positivo e animador para as ambiciosas metas da descarbonização.
Os dados que vos damos a conhecer nesta edição, revelam simbolismos difíceis de ignorar. Pedrógão Grande, que em 2017 viu o fogo escrever a vermelho o nome do concelho em todas as estatísticas, é hoje o território que mais reduz emissões, com menos 57,1% face a 2015. Porto de Mós e Alcobaça seguem-lhe a tendência, provando que as margens rurais e industriais também sabem ler a gramática da transição.
Em sentido inverso, Leiria, Marinha Grande, Peniche e Bombarral ostentam o desconforto de ver as emissões subirem, empurradas pela pressão industrial, pelos transportes e pelas escolhas colectivas que privilegiam o conforto imediato ao futuro partilhado.
No retrato local, é a indústria que ocupa quase metade do quadro – 47,2% das emissões –, ao contrário do cenário nacional, dominado pelos transportes. A boa notícia é que o país já provou, com o encerramento das centrais a carvão e o aumento da produção de energias renováveis, que reduzir CO2 não significa travar o progresso económico; a má é que, mantendo a trajectória actual, o Acordo de Paris continuará a ser, para muitos municípios, mais miragem do que destino.
Falta, por isso, acelerar políticas de mobilidade que tornem a utilização individual do automóvel menos aconselhável. Acelerar a eficiência energética nas fábricas, acelerar a transição agrícola, a gestão de resíduos, a capacidade de cada município olhar para o seu inventário de emissões como quem olha para um espelho e não apenas para um folha de excel.
Destaque ainda, nesta edição, para a entrevista a Carla Reis, escritora natural de Regueira de Pontes, Leiria, e a viver em França, que venceu o Prémio Leya 2025 com o romance A Sombra das Árvores no Inverno, obra centrada na crise dos refugiados sírios. A autora fala de um Portugal que sonhou ser um arco-íris e hoje se vê cada vez mais a preto e branco.