Opinião
Revive Natureza ao virar da esquina
Leiria é a única capital de distrito da Região Centro sem serviços desconcentrados do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas
A antiga sede dos Serviços Florestais na Rua Machado dos Santos, em Leiria, constituída por dois imóveis do domínio privado do Estado, deu lugar a uma unidade hoteleira ao abrigo do Fundo Revive Natureza. No âmbito deste Fundo, criado para a promoção da recuperação de imóveis devolutos inseridos em património natural, na sua maioria antigas casas de guardas florestais e antigos postos fiscais, foram alienados com direito a financiamento, através de concurso lançado em 2020, os direitos sobre os imóveis nele integrados.
Tendo como objectivos a criação de emprego local, a dinamização da economia e a recuperação de imóveis devolutos com vista à sua requalificação para fins turísticos, a afectação da maioria dos imóveis faz todo o sentido. Porém, no caso destes imóveis em Leiria, não. Estavam sem utilização desde 2013 e a sua localização em espaço urbano difere da localização na natureza, como referido no programa Revive Natureza.
Leiria é a única capital de distrito da Região Centro sem serviços desconcentrados do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas. Todas as outras capitais de distrito possuem delegações da Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Centro e o argumento de que temos uma delegação na Marinha Grande não justifica a perda desta valência que Leiria deixou de ter.
No seguimento dos incêndios de 2017, foram criados o Departamento de Gestão de Áreas Públicas Florestais, na Marinha Grande, e a criação da Florestgal, S.A., em Figueiró dos Vinhos, publicitada como a primeira empresa pública de gestão e desenvolvimento florestal a ser criada em Portugal, mas que na realidade mais não foi que a reestruturação da Lazer e Floresta - Empresa de Desenvolvimento Agro-Florestal, Imobiliário e Turístico, S. A., com sede em Lisboa e pertencente à Parpública - Participações Públicas, SGPS, S.A.
Relativamente à Florestgal, com a sede num imóvel pertencente à FICAPE - Cooperativa Agrícola do Norte do Distrito de Leiria, escusado será dizer, que a maior parte da actividade desta entidade durante os primeiros mandatos dos ex-deputados que presidiram ao Conselho de Administração, terá sido nas instalações que possuem em Lisboa. Quanto ao Departamento de Gestão de Áreas Públicas Florestais, na Marinha Grande, são bem conhecidas as alegações do Município da Marinha Grande de que “o departamento para gerir as matas que é só uma placa”.
Tendo decorrido seis anos, desde os incêndios de má memória de 2017, considero que Leiria perdeu duas boas oportunidades de ser a sede destas entidades, num espaço que estava disponível, bastando ser requalificado, tanto mais que os técnicos e peritos da AGIF - Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, I.P., afetos à Região de Leiria, estiveram nos últimos anos em instalações emprestadas pelo Instituto Politécnico de Leiria, uma vez que não possuíam um espaço adequado às suas funções. Os nove quartos desta nova unidade hoteleira, decerto davam para muitos escritórios!