Opinião
Se é racista, não apareça na entrevista
Provavelmente muitos patrões chegaram finalmente à conclusão que o processo de recrutamento deve ser exigente e criterioso não só a nível técnico, mas principalmente a nível humano
Nem sempre o facto de estarmos perante um indivíduo com um currículo bem apetrechado é sinónimo que essa pessoa seja um bom recurso humano.
Não é só de agora que as grandes empresas internacionais optam muitas das vezes por contratar jovens recém-formados mais competente nas relações humanas, na empatia com os outros e na disponibilidade de aprender e de se adaptar do que um recurso que tenha obtido uma excelente classificação no final do seu curso superior, mas que depois não se consiga relacionar com os outros.
As empresas perceberam que recrutar alguém com uma formação humana superior acaba sempre por trazer mais estabilidade, mais cooperação entre grupos e mais segurança para o futuro.
A recente pandemia também acabou por trazer à tona muitas das fragilidades dos recursos humanos das empresas e instituições.
Trabalhadores pouco ou nada comprometidos com os problemas das empresas onde trabalham, técnicos da linha da frente, como a área social e da saúde, que se refugiaram nas suas casas, e também alguns professores que se recusaram a manter a ligação académica e afetiva da escola com os seus alunos.
Provavelmente muitos patrões chegaram finalmente à conclusão que o processo de recrutamento deve ser exigente e criterioso não só a nível técnico, mas principalmente a nível humano.
Um trabalhador que esteja comprometido com a identidade e o projeto da empresa ou instituição trará com toda a certeza mais valias para a “saúde”, crescimento e futuro do seu local de trabalho.
Considero impensável, por exemplo, uma escola (onde se inclui o Ministério da Educação no ensino público) recrutar um professor que não seja “apaixonado” pela sua profissão.
Dificilmente um aluno se comprometerá com a escola se à sua frente não estiver um professor comprometido também com a sua ação de ensinar e motivar.
O mesmo acontece na área social. Não faz qualquer sentido uma associação de intervenção social contratar um técnico que vá trabalhar diariamente com minorias, pessoas com diferentes crenças religiosas e múltiplas etnias se essa mesma pessoa for xenófoba e racista.
Se isso acontecesse acabava por dar origem a um problema de incompatibilização entre grupos e a própria identidade da instituição poderia estar a ser colocada em causa.
Talvez por isso, e também de forma a encurtar o caminho, no processo de recrutamento de algumas associações de cariz social deveriam constar os seguintes requisitos:
1) Se é racista ou xenófobo não venha à entrevista (nota: não gostar de pessoas de etnia cigana também conta).
2) Se não gosta de trabalhar em grupo e de respeitar a diferença e a igualdade de género não vale a pena aparecer.
3) Se lhe faz confusão que o Estado disponibilize fundos para disponibilizar uma habitação para as pessoas que vivem em situação de sem-abrigo fique em casa.
Estas poderiam ser algumas das premissas, entre tantas outras, que poderiam filtrar alguns recursos humanos para algumas instituições.
Acredito que desta forma a probabilidade de se encontrarem compatibilidades entre cargos diretivos e técnicos seria muito superior e que no final todos ganhassem, principalmente os utentes que iriam interagir com toda esta qualidade humana e técnica de uma forma muita mais saudável.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990