Opinião
O professor primário e o laço intemporal com os seus antigos alunos
Não haverá melhor momento, para um professor apaixonado pelo que faz, do que rever os seus antigos alunos
Eu sei que “professor primário” é a designação antiga para o que hoje chamamos “professor do 1º ciclo”. Foi a modernidade que trouxe esta nova nomenclatura, mas as minhas boas recordações da escola obrigam-me a manter-me no passado. Há, é certo, alguns registos menos positivos, mas esses prefiro guardá-los numa pequena gaveta que raramente abro. As boas memórias da escola amarela e da minha querida professora Milú estão guardadas em grandes gavetões de cómodas robustas, e sempre que se abrem trazem afeto, paixão, empatia e muita criatividade para a sala de aula.
Os primeiros quatro anos de escola (o 1º ciclo) são a base de uma casa que se quer grande, espaçosa e repleta de divisões distintas. É a fundação da história de uma criança que, nessa fase da vida, começa a construir as ferramentas, as atitudes e os valores que a capacitarão para navegar pelo mundo, aprender continuamente e tornar-se um adulto feliz e um cidadão ativo.
Sempre acreditei que um bom professor é aquele que exige disciplina e rigor dos seus alunos, mas que também traz para a sala de aula a importância dos afetos e a relevância de inspirar, motivar e gerar resiliência nos seus pupilos. Um professor que promove um desenvolvimento integral e completo dos seus alunos, seja ele cognitivo, social, emocional ou cívico.
Só assim os alunos guardarão boas memórias de um período tão importante do seu percurso académico.
Mais tarde, com o passar dos anos, acredito que o bom professor primário será sempre lembrado como uma peça crucial na vida daqueles jovens adultos que, há tão pouco tempo, eram pequenas crianças a dar os primeiros passos na escola. Um abraço num dia mais triste, as palavras certas para ajudar a ultrapassar um problema, a descoberta de algo novo - tudo isto e muito mais ficará para sempre marcado.
Não haverá melhor momento, para um professor apaixonado pelo que faz, do que rever os seus antigos alunos, abraçá-los e perceber que o forte laço criado há tantos anos se tornou algo tão sólido e intemporal. Uma ligação tão profunda e significativa, sempre resiliente à passagem das histórias de vida de cada um.
Num mundo em constante e, por vezes, perigosa mudança, onde as tecnologias avançam a um ritmo sem precedentes e as conexões digitais parecem, por vezes, substituir as humanas, acredito que a essência do professor primário ainda permanece. Talvez seja uma prova viva de que o que se constrói com afeto, dedicação e um olhar sempre atento transcende qualquer realidade virtual.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990