Opinião
Seis discos livres de amarras
Por fim, e antes de deixar-vos a tal lista, constate-se que este ano, apesar de tudo, foi um ano bastante prolífero em termos de edições.
Agora que estamos na recta final de 2020 lembrei-me que poderia ser interessante partilhar convosco alguns discos que, na minha opinião, vale a pena escutar e ter.
Não se trata de nenhuma lista de “melhores discos do ano”, pois, sinceramente, acho essa “terminologia” abusiva, até porque, na música, não há, propriamente, um arquétipo definido sobre “o que é ser melhor”, sendo que também não devemos esquecer que o julgamento de uma obra está sempre sujeita à subjectividade de quem a analisa.
Posto isto, acrescento que os discos que vou referir não são propriamente “peras doces de ouvir”.
Cada um, à sua maneira, encerra em si uma audição desafiante. Para mim, é aí que reside uma das coisas mais fascinantes que a música tem para nos dar.
Por fim, e antes de deixar-vos a tal lista, constate-se que este ano, apesar de tudo, foi um ano bastante prolífero em termos de edições.
Com os músicos impedidos de andar em digressão, é no estúdio que eles têm estado.
Eis as obras selecionadas e apresentadas por ordem aleatória: “The Construction Of Time”, de Vitor Joaquim (música electrónica, piano tratado, manipulação de sons, vozes e trompete, em mais uma abordagem singular de um dos compositores mais aclamados da música exploratória portuguesa); “Tau Tau”, de Calhau! (experimentalismo em ambiente controlado onde se constroem canções com letras quase nonsense num universo com laivos de dadaísmo); “Chão Vermelho”, de Joana Guerra (a exímia violoncelista e cantora urde aqui, com a ajuda de mais alguns músicos, uma teia de momentos, ora ritualistas, ora contemplativos, sempre intensos e sublimes); “The Carrier Frequency”, de Graeme Miller e Steve Shill (extraordinária epopeia de sons e ambientes, muito nas linhas seminais dos Coil, Cabaret Voltaire ou Throbbing Gristle); “Asche”, de Haus Arafna (canções frias e niilistas, feitas a partir de fragmentos de ruídos, vozes saturadas e ritmos gravados em lugares lúgubres); “Vénia”, de João Vairinhos (paisagens sonoras pós-industriais com ambientes soturnos onde por vezes emergem ritmos nebulosos e melodias neoclássicas).
Tudo discos, claro, para se ouvir sem medo e de mente aberta.