Opinião

Silêncio, um luxo no século XXI

9 ago 2018 00:00

Vivemos num tempo que parece ter sido conquistado pelo ruído, com este a não dar tréguas, quer no espaço público quer na maioria dos estabelecimentos comerciais.

“Os segredos do Mundo escondem-se dentro do silêncio”
Erling Kagge, Silêncio na era do ruído

Em entrevista nesta edição do Jornal de Leiria, Pedro Machado, presidente do Turismo Centro Portugal, afirma que o silêncio, a par do tempo, será um dos luxos do século XXI, podendo vir a ser um dos principais argumentos turísticos da região Centro.

Para muitos, esta opinião de Pedro Machado será causadora de estranheza, principalmente se atendermos aos tempos que correm, onde quase tudo o que acontece é embrulhado de espectacularidade, normalmente com muitas luzes e sonoridades elevadas.

No entanto, muitos outros não poderão estar mais de acordo com as suas palavras, pois vivemos num tempo que parece ter sido conquistado pelo ruído, com este a não dar tréguas, quer no espaço público quer na maioria dos estabelecimentos comerciais.

O chamado som ambiente, proveniente das mais variadas fontes, sejam TVs para onde ninguém olha, programas de rádio a passar os hits do momento intercalados com publicidade, computadores ligados a instalações sonoras de última geração, ou mesmo DJs a esforçarem-se para parecerem indispensáveis, invadiu cafés, restaurantes, lojas, esplanadas e, em alguns períodos do ano, as próprias ruas.

À invasão dos locais, seguiu-se a conquista de cada espaço, com o volume do som a surgir cada vez mais elevado e a deixar de ser ‘ambiente’ para ser predominante, de tal forma que em muitos locais é impossível manter uma conversa sem se estar aos berros.

Chegou-se a um ponto em que mesmo nos locais onde deveria ser apenas a natureza a falar, como nas praias, o ruído sonoro aparece a intrometer-se, corroendo a tranquilidade e impedindo qualquer tipo de contemplação e reflexão, levando muita gente a, momentaneamente, odiar essa coisa maravilhosa que é a música (alguma, como é óbvio).

Ou seja, mesmo para os melómanos mais acérrimos, as instalações sonoras são como pragas que não deixam espaço para o silêncio, para as conversas calmas e para o desfrutar dos espaços tal como eles são, o que para muitos é sentido como uma perda enorme, para lá de ser cansativo e incómodo.

Será nessas pessoas que Pedro Machado pensa quando se refere ao silêncio como um dos luxos que a região Centro tem ainda para oferecer, sendo que para assim continuar tem que estancar a ‘modernidade’ que já tomou conta dos centros das cidades e vilas, transformados em salões de festas e parques temáticos, e de boa parte da zona costeira, onde raramente o som do mar ganha ao barulho que emana das marginais.