Opinião

Um ano depois...

14 jun 2018 00:00

Perante uma ameaça extrema, que colocava em perigo a vida de centenas de pessoas, o Estado não esteve à altura das exigências, falhando um pouco em todo o lado.

No próximo domingo assinala-se umas das datas mais fatídicas da história recente desta região, o dia em que o fogo levou consigo 66 vidas, deixando um rasto de destruição material e devastação emocional. 

Passado um ano, como é natural, a ferida continua bem aberta, com muitas pessoas a terem dificuldade em falar dos acontecimentos daquele dia em que o inferno tocou a face da terra, entre sentimentos de perda, de revolta e de angústia. 

Foi também o dia em que ficou visível aos olhos de todos a fragilidade do País em que vivemos, incapaz de dar resposta a episódios excepcionais que se desviem da norma de um dia-a dia garantido já no limite. 

Perante uma ameaça extrema, que colocava em perigo a vida de centenas de pessoas, o Estado não esteve à altura das exigências, falhando um pouco em todo o lado, desde a quantidade e qualidade dos meios, passando pela organização e coordenação dos que estavam disponíveis, até ao sistema de comunicação, que colapsou deixando centenas de pessoas entregues a si próprias.

Seria de esperar que após tamanha prova de incúria, e conhecidas as suas consequências trágicas, não se poupassem esforços para compensar aquelas populações do sofrimento por que passaram, mas também para recuperar a imagem do Estado naquela região, onde muitas pessoas não tiveram nenhuma ajuda para além da força que emergiu dos seus interiores.

No entanto, passada a onda solidária que nos primeiros meses se fez sentir de todo o País, a que se juntou de forma muito significativa o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa com a sua política de afectos, a verdade é que, após um ano, o que se sente naquelas terras é que tudo tem acontecido de forma muito lenta, um ritmo nada condizente com as urgências de quem ali vive.

Como assumido esta semana pelo ministro do Planeamento e das Infra-Estruturas, Pedro Marques, em visita àquele território, 40% das casas de primeira habitação ainda não têm as obras concluídas, havendo dezenas de famílias que continuam a viver o pós-tragédia em condições precárias e pouco adequadas ao luto.

Além desta aspecto, que será a face mais visível do conceito de urgência de quem nos governa, há, infelizmente, muitas outras provas de que, para algumas cabeças, o interior do País não deixa de ser uma coisa distante por ter tido um incêndio.

A maioria das infra-estruturas públicas que cederam ao fogo continuam por recuperar, várias empresas desesperam pelos apoios prometidos que lhes permitam retomar a actividade, e até a sinalização rodoviária que o fogo enegreceu se mantém por trocar, um pormenor que não deixa de ser simbólico deste ano que passou.

Ou seja, o tempo que dista daquele dia negro, parece mostrar que o que aconteceu não foi suficiente para, de uma vez por todas, começarmos a olhar para o nosso País como um todo, continuando a haver vários países dentro deste Portugal.