Opinião

Uma demissão esperada

7 mar 2019 00:00

Basta uma pesquisa rápida nos arquivos do JORNAL DE LEIRIA para encontrarmos notícias bem elucidativas do hospital que tínhamos, desde logo nos problemas estruturais do edifício, que em alguns locais apresentava brechas com vários centímetros.

A notícia da demissão de Helder Roque do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) será, certamente, recebida com tristeza pela esmagadora maioria das pessoas desta região, que reconhecerão o enorme trabalho que a administração por ele liderada realizou na última década e meia.

Apesar de a memória ser muitas vezes curta e de, frequentemente, guardarmos apenas a ‘última imagem do filme’, é inegável reconhecer que o hospital de Leiria é, hoje, manifestamente diferente, para melhor, daquele que tínhamos há 15 anos, seja ao nível das infra-estruturas seja no tipo de serviços prestados.

Basta uma pesquisa rápida nos arquivos do JORNAL DE LEIRIA para encontrarmos notícias bem elucidativas do hospital que tínhamos, desde logo nos problemas estruturais do edifício, que em alguns locais apresentava brechas com vários centímetros.

Ano após ano, fomos assistindo à requalificação do hospital, quer a nível estrutural quer no que respeita à sua imagem, numa tentativa de recuperar a confiança da população, que sempre que possível procurava Coimbra ou Lisboa para debelar os seus problemas.

As obras foram muitas, como a recuperação do edifício, a instalação do serviço de Medicina Intensiva e a unidade de Hemodinâmica e a requalificação das Urgências, entre outras, mas houve também aposta noutras áreas, como a melhoria do corpo clínico, que foi reforçado com alguns médicos de reconhecida qualidade e elevada notoriedade, o alargamento dos serviços disponibilizados e a criação de uma unidade de investigação, sem nunca perder o equilíbrio económico-financeiro que permitiu ao hospital de Leiria ser dos poucos no País sem problemas neste particular.

Não obstante todo este percurso, que valeu elogios frequentes dos diferentes ministros da tutela, assim como a atribuição pelo Ministério da Saúde da Medalha de Serviços Distintos Grau Ouro a Helder Roque, sempre se percebeu que a administração não sentia apoios efectivos ao seu projecto de tornar o CHL num hospital diferenciado e de referência na região Centro.

As ‘guerras’ com Lisboa e, principalmente, com Coimbra, foram muitas, com a administração do CHL a reivindicar constantemente maior financiamento e mais médicos, principalmente após a absorção do concelho de Ourém, que, como é conhecido, trouxe problemas acrescidos.

No entanto, apesar das promessas, muitas delas públicas, raramente o CHL viu as suas pretensões atendidas, o que criou cada vez maior pressão sobre os serviços e degradou a capacidade de resposta, principalmente nas Urgências, obrigando médicos, enfermeiros e auxiliares a um esforço redobrado, o que em muitos casos gerou grande insatisfação.

Ou seja, a demissão de Helder Roque poderá ser uma surpresa para muita gente, mas para quem lhe é mais próximo e conhecedor das suas angústias não será surpreendente de todo.

Agora foi de vez.

Espera-se que o próximo presidente dê seguimento ao excelente trabalho que Helder Roque e toda a sua equipa desenvolveram e que tenha, pelo menos, o mesmo nível de exigência, de abnegação e de sonho.

*director