Opinião
Viver em Leiria
Não sendo a minha casa, Leiria não deixa de ser como uma casa para mim
Se algum dia a vida mudar, já decidi que venho morar para Leiria.
Leiria sempre me intrigou. Cenário do Padre Amaro, semi-distante centro do Portugal de Lisboa, cidade da Fade In, morada de bandas, editoras, grupos de teatro, que me transmitiam uma vibração de pessoas que faziam coisas sem terem de ir para a capital.
Antes de mudar para Alcobaça, conheci o dia e a noite de Leiria. O nosso baixista morava no Terreiro, o pai do nosso teclista é “leiriense”, tínhamos actuado cá com os Moonspell, sempre recebidos com grande autenticidade.
Depois, o EntreMuralhas. Vinham a Leiria bandas que Lisboa não tinha a inteligência de contratar. Fui escolhido para entregar uma medalha à Fade In no José Lúcio da Silva.
Nada mau para quem tinha começado a vender camisolas dos Moonspell à Alquimia. Num dia inspirado, liguei ao Pedro (da Rastilho) e, juntos, tomámos conta do catálogo dos Moonspell, abrimos a loja online que vende o nosso merchandise para todo o mundo, fundámos a Alma Mater que lança bandas de Metal nacional e não só.
O outro sócio também é daqui, um designer e tipo fantástico que se chama João Diogo, e dispensa apresentações.
Também foi em Leiria, no Dr. Barber, com o Jorge, que cortei a minha guedelha de 30 anos. É lá que o meu filho corta o cabelo.
Foi o João (Diogo) que me “desafiou" para um copo depois da apresentação do meu romance na Arquivo (a minha livraria favorita) pelo meu amigo João (Lázaro).
Um copo que se tornou num jantar, que se tornou num concerto dos Ayamonte Ciudad Rodrigo, rematado por uma imperial na cidade do Natal, comigo a chegar a Alcobaça a desoras, com este texto na cabeça.
E aqui escrevo o que observo e sinto.
Não há cidades perfeitas, mas nos tempos que correm não será a perfeição comer e beber bem, estar rodeado de cultura, de música, de amigos, de oportunidades e de potencial?
Eu acho que sim e, não sendo a minha casa, Leiria não deixa de ser como uma casa para mim.