Opinião
Web Summit: entre o palco de Lisboa e o futuro de Leiria
O que no Web Summit é promessa, aqui é execução
Durante uma semana, Lisboa volta a ser o epicentro da inovação mundial. O Web Summit é mais do que uma conferência: é um palco global onde se cruzam egos, ideias e investimentos. É também, para muitos, o símbolo de um país que quer ser moderno, tecnológico e empreendedor. Desde 2016, o evento trouxe notoriedade, turismo e um certo entusiasmo pela palavra “startup”. Mas quase uma década depois, fica a dúvida: o que ficou para além da fotografia?
Portugal aprendeu a organizar grandes eventos, mas ainda luta para criar grandes empresas. Somos bons a montar palcos, menos a construir ecossistemas sólidos. O Web Summit teve, contudo, um impacto cultural inegável. Criou uma geração que olha para a inovação como vocação e não como exceção. Democratizou o discurso tecnológico e deu visibilidade a fundadores e programadores que antes viviam na sombra. Mostrou que o futuro também podia falar português — ainda que, muitas vezes, com sotaque estrangeiro no capital e nas decisões.
Fora da capital, há outro país que se move mais silenciosamente. Leiria, com a sua tradição industrial e espírito empreendedor, tem vindo a transformar esse discurso em prática. A Startup Leiria tem estado presente em todas as edições do Web Summit, não como espectadora, mas como agente ativo. Leva consigo startups da região, atrai novas empresas e projeta Leiria como um polo emergente de inovação aplicada.
Este ano, o marco é especial: será apresentado o Defense Accelerator, um programa pioneiro que liga startups e empresas à área da defesa e segurança, explorando tecnologias de duplo uso — da robótica à inteligência artificial, passando pelos moldes e plásticos. Um passo ousado para uma cidade que sempre soube conjugar indústria com conhecimento. Enquanto em Lisboa se fala do futuro do trabalho, em Leiria ele acontece.
Enquanto se debate a inteligência artificial, nas empresas da região ela já otimiza processos e reduz desperdício. O que no Web Summit é promessa, aqui é execução. Portugal precisa dos grandes eventos — inspiram, conectam, abrem horizontes —, mas precisa ainda mais de consistência. A inovação não é um espetáculo, mas sim um trabalho diário, feito de persistência, colaboração e visão de futuro.
Talvez um dia o país perceba que o verdadeiro palco da inovação não está em Lisboa, mas nas regiões que todos os dias a praticam. E talvez nesse dia, quando as luzes do Web Summit se apagarem, Leiria surja mais brilhante e óbvia do nunca.
Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990