Economia

Robots: o futuro já bateu à porta das empresas da nossa região

1 out 2020 12:31

Cortam pedra, afiam facas, manipulam peças plásticas. Muitas empresas já não trabalham sem o apoio de robots, que aumentam a produtividade e libertam os colaboradores para outras funções

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Ivo Cutelarias é uma das empresas que incorporam vários robots
DR
Daniela Franco Sousa

Primeiro estranha-se, depois entranha- se. Os robots chegaram a muitas empresas da nossa região, onde alguns colaboradores começaram por encarar as máquinas com algum receio, mas depressa passaram a vê-las como apoio indispensável à sua actividade. Já os empresários ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA não têm dúvidas do aumento da produtividade e da qualidade que os robots vieram imprimir aos seus produtos, permitindo ainda libertar muitos colaboradores para funções de maior valor acrescentado.

Sediada em Caldas da Rainha, a Ivo Cutelarias dedica-se ao fabrico de facas, que exporta amplamente para vários pontos do globo. Actualmente, explica Ivo Peralta, administrador e responsável pelo departamento de produção e de desenvolvimento, são já 52 os robots adoptados pela empresa. “Vêm facilitar o trabalho das pessoas e são utilizados nas mais variadas tarefas: fazem transporte de produtos entre máquinas, através de passadeiras; ajudam a afiar lâminas ou a lixar cabos”, exemplifica Ivo Peralta.

Por outro lado, “além de facilitarem o trabalho às pessoas, vêm aumentar a capacidade produtiva e garantir melhor qualidade dos resultados”, sublinha o responsável. “ Temos departamentos ainda sem robots, outros com alguns, e outros ainda que são ocupados a 100% por robots”, prossegue o empresário. Isto porque nalgumas áreas é relativamente simples implementar robots e porque noutras há operações que não se conseguem realizar sem mão humana, esclarece o administrador.

No que respeita ao aumento da capacidade de produção, os números não deixam margem para dúvidas. Enquanto uma pessoa consegue afiar cerca de 200 facas por hora, uma só pessoa consegue controlar três robots que, por sua vez, afiam essas mesmas 200 facas em 60 minutos. Ou seja, robotizar permite, nesta tarefa, triplicar a capacidade produtiva, realça o empresário. E se inicialmente os robots são percepcionados pelos colaboradores como “concorrência directa”, assim que essas máquinas são vistas a operar, essa ideia inicial dissipa- se imediatamente, porque percebem como vêm facilitar o seu trabalho, relata Ivo Peralta. Além disso, explica o empresário, “o objectivo nunca é mandar embora colaboradores. O que acontece é que estes são transferidos para os sectores onde é mais necessário o seu contributo. Como na zona de embalamento”, especifica o responsável.

Com o grande apoio dos robots, nos últimos cinco anos, o negócio da empresa cresceu cerca de 40% - o volume de negócios alcançado em 2019 rondou 9 milhões de euros - e o número de colaboradores não só não decresceu como até tem vindo a aumentar, observa Ivo Peralta. A equipa é hoje constituída por cerca de 180 pessoas. Na Ivo Cutelarias, a aposta em robots começou há 15 anos e desde então não parou. Só no início de 2020, a empresa comprou 12, num investimento de 312 mil euros. E no início do próximo ano está prevista a aquisição de mais cinco a dez, estima Ivo Peralta.

Um auxílio à arte dos colaboradores

Também no sector da transformação de pedra a utilização de robots se tem revelado muito vantajosa. Com perfil essencialmente exportador (comercializa para o mercado internacional 95% do que produz), a LSI Stone, de Porto de Mós, conta actualmente com cerca de 50 colaboradores e com 22 robots distribuídos pelas suas linhas de processamento de pedra natural, que desempenham funções diversas, desde “movimentação, carga e descarga de matéria-prima, processamento e corte, aplicação de resinas e aplicação de películas protectoras”, exemplifica a empresa liderada por Regina Vitório.

Estes contribuem sobretudo para a organizaç ão do processo industrial: “a inclusão deste tipo de tecnologia libera os recursos humanos para tarefas de maior exigência técnica, o que naturalmente tem impac to na produtividade industrial”. E, “não se tratando exactamente de robots, mas de tecnologia de apoio às tarefas industriais, também o alargado conjunto de sensores que equipam as nossas máquinas contribui decisivamente para a qualidade da nossa produção”, faz saber a empresa de Porto de Mós. Os ganhos são também expressivos. Nalguns campos, a incorporação desta tecnologia permite aumentar a produtividade em mais de 50%.

Satisfeita com os resultados, a LSI Stone entende que o processo de modernização e de incorporação tecnológica deve ser um processo contínuo, pelo que, neste momento, está a avaliar a integração de um sistema de movimentação de carga AVG, “que poderá contribuir para um nível superior de capacidade de automação da fábrica”. “Numa fábrica de pedra natural, uma actividade que era tradicionalmente reconhecida por ser um processo industrial muito pesado, estes equipamentos contribuíram para uma verdadeira revolução na forma de interacção entre a matéria- prima e o trabalhador. Estas máquinas são, sem dúvida, uma importante ferramenta de auxílio ao trabalho e arte dos nossos colaboradores e é assim que são percepcionadas”, salienta a LSI Stone.

“A competitividade do sector da rocha ornamental em Portugal, sem a valorização tecnológica que se tem vindo a verificar, seria de difícil sustentabilidade, quer por esta tecnologia contribuir para a produtividade e criação de valor, quer também por contribuir para a atractividade de recursos humanos qualificados”, remata a empresa.

Um alívio em tarefas repetitivas e extenuantes

O recurso aos robots também é relevante no sector da produção de moldes e da injecção de peças plásticas. Disso é exemplo a actividade da Moldoeste, grupo sediado na Maceira (Leiria), que emprega cerca de 200 pessoas, exporta quase a totalidade do que produz (98%) e que só no ano passado alcançou um volume de negócios na ordem dos 15 milhões de euros.

O grupo tem actualmente 28 robots (entre 3 e 6 eixos), que desempenham inúmeras funções: “manipulação de blocos de grafite e de eléctrodos; manipulação de peças plásticas após injecção; separação de referências; interacção com meios de controle (visão artificial, teste eléctrico, entre outros); gestão de rejeitado

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