Entrevista

Labaq: “Estar só com a música na estrada dá liberdade para você ser o que quiser”

11 jun 2021 09:18

A cantora e compositora nascida no Brasil, agora a viver em Leiria, fala de arte e identidade: “Tem a caixa masculina e a caixa feminina, o não-binário é escolher uma não caixa e é não me identificar com nenhuma dessas duas, não querer ou ver sentido em ter que escolher entre esses dois géneros”

Labaq: "Eu amo [a cidade de Leiria]. Moro bem no centro, acho incrível, acho romântica"
Ricardo Graça

É exagero dizer que a música mudou o seu modo de vida?
Estar na estrada e viver para a música, não só da música mas para ela, condicionou a forma como me relaciono com as pessoas, a forma como me visto, condicionou a minha vida de um jeito muito profundo.

Trouxe coisas boas?
Ruins e boas. As boas, estou aqui por causa da música. Cresci muito a nível pessoal por causa da música, vi coisas, conheci pessoas, experimentei sensações, sentimentos, só por causa da música, que sem a música não teria vivido. As ruins, depois de muito tempo fora, depois de muito tempo viajando, ninguém te espera em lugar nenhum. E, quando me liguei que isso acontece, que isso acontecia, foi pesado, é pesado, é profundo. Ninguém te espera para aniversários, por exemplo. Os meus pais não esperavam, porque eu podia estar lá alguns meses, mas já estava planeando outras idas para não sei onde. Viagem na América do Sul, viagem no Brasil. Fiquei sete anos nesse ritmo. Saía de casa em Janeiro, ou depois do Carnaval, e voltava no Natal. Às vezes voltava, mas se ficava em casa por duas semanas, já era muito.

Quantos países?
Para aí uns 15, 20, desde 2011. Antes da pandemia, cheguei a estar três, quatro meses viajando.

Apátrida, sem casa.
Sim, totalmente. Tanto que chegar em Leiria e ser abraçada pela comunidade toda daqui, tanto artística como de amigos que fiz, é uma coisa que... é minha casa, me sinto em casa, mas ainda me sinto nesse processo de aterrar, sabe? Foi tanto tempo sem, que ainda me sinto chegando, de alguma forma. Mas é o lugar que escolhi e não consigo pensar noutro lugar melhor.

E porquê Leiria?
Por causa da Omnichord, em primeiro lugar. E pelas pessoas que estão aqui e por me identificar muito com a forma como trabalhamos. Houve uma sinergia, uma química de pensamento, de como enxergar o mercado da música, de pensamento artístico, também, de liberdade, de autonomia, de vamos fazer e vamos juntos. A coisa de estar na estrada sozinha por tanto tempo aconteceu porque não achei gente que estava querendo a mesma coisa que eu. Então, fiz um concerto sozinha e comecei a viajar sozinha. Quando me deparei com isso daqui acontecendo, em Leiria, em 2016, que era só a Casota, não era nada mais, identifiquei-me totalmente, porque eles estavam vivendo para aquilo. Era a coisa que eu estava fazendo também. Depois conheci o Hugo [Ferreira], a Débora [Surma], ficámos super-próximos. E, no fim, Leiria é isso: o lugar e as condições para eu viver o amor à música.

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