Entrevista

Maria José Fernandes: “Qualquer dia, o País tomba para o Atlântico”

12 set 2024 08:00

Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, defende políticas públicas para a coesão territorial, como a limitação de vagas em universidades onde a procura é muito grande. E lamenta que não haja igualdade de acesso ao ensino superior, devido a questões financeira

Maria José Fernandes
DR
Alexandra Barata

O elevado preço dos quartos tem sido a grande preocupação das famílias dos estudantes que ingressam no ensino superior, sobretudo nas grandes cidades. Tirar um curso superior vai voltar a ser apenas para as elites?
Espero de todo que não. O caminho que fizemos de democratização de acesso ao ensino superior não nos vai permitir retroceder. O País mudou completamente desde 1974, quando havia três universidades centrais. O caminho tem sido exactamente o oposto. A qualificação é o maior elevador social. Esteve cá o primeiro-ministro, que dizia que só somos iguais a partir do momento em que todos temos acesso à educação, e em que partimos todos de uma base comum. Agora, a questão actual tem muito a ver com as dificuldades que as famílias têm em ter os filhos a estudar, sobretudo os deslocados. É um drama, porque podem querer tirar Engenharia Aeroespacial no Porto, que tem a melhor média do País, e não ter condições financeiras para isso. Quem tem condições económicas, tem outra vantagem, mas no acesso também é um bocadinho assim. As pessoas com melhores condições económicas têm capacidade para ter os filhos em explicações. A nível nacional, nos politécnicos temos a oferta formativa de TeSP [curso Técnico Superior Profissional], que tem sido uma grande solução para frequentar o ensino superior, pela disseminação no território. Neste momento, está em mais de 140 concelhos, ou seja, quase metade do País já tem cobertura de oferta de ensino superior. Só no IPCA [Instituto Politécnico do Cávado e do Ave], concorreram 3.050 jovens e adultos. As famílias acabam por aproveitar esta oportunidade de ter um ensino de proximidade.

Como é que se pode resolver este problema?
Só se pode resolver com mais oferta de alojamento. Enquanto as novas residências de estudantes não estiverem prontas, teremos dois anos dramáticos, em que não haverá quartos, e os que há são caríssimos. Assim, é impossível as famílias terem os filhos a estudar. Chegamos a um ponto, em que pode acontecer que seja apenas para uma elite. É isto que as políticas públicas têm de trabalhar, para não permitir que só quem tem condições financeiras consiga prosseguir estudos.

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