De repente milhares de alunos foram obrigados a ir para casa e as aulas tiveram de continuar. Como é que a escola encarou essa mudança?
Isto é um método de trabalho completamente diferente do que as pessoas estavam habituadas, portanto, criou-nos alguns constrangimentos, uma vez que não havia experiência nenhuma neste âmbito. Nas últimas duas semanas do 2.º período, os professores adoptaram as medidas que mais lhes eram familiares. Durante o período de férias resolvemos uniformizar e escolhemos a plataforma Classroom. Como tínhamos o domínio aeds.pt, criámos emails institucionais para todos os professores e alunos e no início do 3.º período os professores foram mudando, paulatinamente, para a nossa plataforma. É evidente que há muitas dificuldades, porque muitos colegas nunca tinham trabalhado com isto, nem os alunos em casa. Criámos um grupo para os professores tirarem dúvidas e partilharem as dificuldades e aqueles que são mais conhecedores do assunto apoiam os colegas. Sinto que as pessoas têm muitas dificuldades, mas estão a tentar aprender. Este é um período que exige dos professores muito bom senso, muita compreensão e muita capacidade criativa, o que nem sempre é fácil. Exige mesmo muito dos professores, que se estão a reinventar. Estão a fazer coisas para as quais nunca estiveram preparados.
Criou-se um espírito de solidariedade entre os docentes?
Noto perfeitamente que há um espírito de entreajuda, que, talvez, no processo normal não existisse. Há colegas que estão sempre na linha da frente disponíveis para responder às dificuldades que outros vão apresentando. Os nossos professores de informática disponibilizaram um link em que estipulámos um horário durante a semana, para quem quisesse tirar dúvidas. Foi um método interessante para apoiar quem precisa. Quando o Governo mandou encerrar as escolas, alguns professores queixaram-se da falta de orientações. Sentiram-se um bocado perdidos? Sim, de facto. O Ministério da Educação (ME) criou links com algumas informações de apoio às escolas, mas muitas vagas. Tivemos que criar o nosso plano de educação à distância, mas sempre na perspectiva de o tentar melhorar. O documento foi feito um bocadinho à pressa, porque tínhamos de dar uma resposta rápida. No 3.º período já tivemos mais tempo para trabalhar. Também não sei se o ME deveria ter dado orientações mais precisas, porque cada escola tem a sua realidade. Mas, de facto, sentimo- nos um bocadinho à deriva com isto tudo.
É tudo muito novo para toda a gente?
Sim. As escolas estão mais ou menos equipadas: têm quadros interactivos, computadores, projectores, mas, mesmo sem ter dados concretos, hoje há muito menos professores a usar o quadro interactivo do que quando ele surgiu. Uma coisa é o uso do computador, que é praticamente generalizado, outra é a utilização das ferramentas digitais, que não estarão a ser usadas muito frequentemente. Agora, imagine-se, passar de uma situação destas para o ensino à distância online. Isto cria muito stress e angústia aos professores. Há muito mais trabalho. Os professores estão sempre agarrados ao computador, atentos às fichas e aos emails que os alunos enviam. Por vezes, não sabem como abrir os trabalhos enviados pelos alunos... Estamos todos a aprender e as plataformas têm as suas limitações, porque também não estavam preparadas para esta massificação. Eram usadas esporadicamente. Confesso que fiquei surpreendido com a grande adesão de todos, principalmente no secundário, às aulas síncronas.
Os alunos estão em todas as aulas síncronas?
Há alunos que não vão e estamos atentos a essas situações. Já tentámos contactá- los, por diversas vezes, sem sucesso. Não sabemos o que se passa com eles e vamos contactar a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens e as forças policiais. Depois há o problema da falta de equipamentos. No primeiro levantamento que fizemos cerca de 60 alunos não tinham computador, num universo de 2550 alunos. No 1.º ciclo e no pré-escolar resolvemos a situação com os Magalhães, que os colegas recondicionaram. A ideia era atribuir computadores a todos os alunos do escalão A, mas sabemos que na prática não é o escalão que define a situação. Há famílias que estão em teletrabalho, com vários filhos em casa e só têm um computador. A Câmara cedeu-nos alguns equipamentos para os alunos do escalão A e alguns do B e o que faltar vamos tentar resolver internamente.
As aulas por videoconferência levantam receios da imagem do professor poder ser usada para outros fins. Por outro lado, a era digital é cada vez mais usada. Esse receio está associado ao medo do desconhecido?
No nosso agrupamento pode haver um ou outro professor mais céptico, mas a maior parte não tem problema com isso e, pelo menos, o som é usado. Também há muito receio por parte dos pais. Mas, é curioso, que alguns dos que levantam esses problemas são aqueles que expõem toda a sua vida e fotografias dos filhos no facebook.
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