Ao seu primeiro romance, A Demanda de D. Fuas Bragatela, de 2002, seguiram-se Os Dias de Saturno, O Ouro dos Corcundas e, agora, A Vida Airada de Dom Perdigote… qual é a maior dificuldade de escrever romances históricos? É a pesquisa, é o tom ou o discurso de época?
Direi que o mais moroso é talvez a pesquisa, mas não considero essa etapa como uma dificuldade. Para mim, aliás, é uma das partes do processo que mais gozo me dá, porque sou muito curioso e adoro aprender. Além disso, uma boa pesquisa ajuda bastante a estruturar o romance e a sugerir diferentes caminhos.
Quando fala do seu mais recente livro escuta-se o orgulho na sua voz. É o seu “filho” mais complexo?
Embora não pensado, este romance foi desejado durante muito tempo. O último havia sido escrito em 2011, ou seja, há 12 anos. Neste intervalo de tempo, senti que já não seria capaz de escrever um novo romance. É certo que, em cada novo trabalho, sinto sempre que é a primeira vez, mas agora foi diferente. Sinto que corri uma maratona e que venci a prova. É o meu triunfo pessoal. Ainda por cima, amadureci bastante enquanto escritor e isso veio enriquecer o romance. Nota-se uma escrita madura, com mais níveis de profundidade e intertextualidade, mantendo ao mesmo tempo as características que me distinguem: a linguagem e a pilhéria.
Quem é D. Perdigote, o protagonista do novo livro?
Dom Perdigote é um espadachim nascido em Olivença, precisamente no ano em que o rei Felipe toma as rédeas do trono português, 1580, e que busca cumprir o seu destino. Contudo, ele não é português, nem espanhol, é ibérico. Este romance é uma espécie de declaração de amor à cultura e à literatura espanholas, que tanta influência tiveram em mim, daí as muitas referências literárias e artísticas existentes ao longo do livro.
Como se lembrou de embrulhar na narrativa personagens como o escritor Cervantes ou o pintor El Greco?
O romance decorre num arco temporal que vai de 1580 até 1605, data de nascimento do príncipe. É nesse ano que, em Valladolid, sede da Corte espanhola, se realiza o baptizado real e é nessa cidade que vive Miguel de Cervantes e Francisco de Quevedo. Além disso, foi também nesse ano que se publicou o Dom Quixote, o grande romance da literatura mundial. Já o El Greco é uma surpresa, aliás, relacionada com um dos seus quadros mais famosos, El caballero de la mano en el pecho, que se encontra no Museu do Prado, em Madrid.
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